Numa tarde quente, sem nortada poveira, estava eu, na Avenida dos Banhos, a ver o préstito de Nossa Senhora da Assunção, quando, de repente, surgem duas ambulâncias, que pararam quase diante de meus olhos.
Confusão entre os figurantes, que desfilavam, e ente os fiéis e curiosos que assistiam.
Uns, queriam passar. Outros, protestavam: “Falta de respeito com as autoridades religiosas e civis!”
Exaltaram-se as partes. Então, mulher rechonchuda, gorda como texugo, que saboreava colossal sorvete, de quatro ou cinco bolas, começou a protestar: “Sou doente… e não posso estar parada”
Obtemperou outra: “Se é doente, volte para trás e sente-se. Atravessar a rua é que não…”
Mas ela queria avançar, tentando “atropelar” a banda, que marcava passo, ao ritmo da música.
Homem esguio, de cabelo grisalho, que presenciava a triste cena, num aparte, a meia-voz disse: “Onde não há polícia, há desordem!”.
E eu, que estava encostado à ombreira de porta de loja comercial, logo recordei o lamento de velhinha, que permanecia no ponto de paragem, de Heitor Penteado (Avenida Paulista,) que, quase chorosa, dizia-me:
– Já passaram três ônibus (autocarros) e nenhum parou! Como sou velha, não me respeitam!
Estamos a passar por enorme crise de autoridade. Ninguém se respeita; nem se dá ao respeito.
Dizia-se, no século XX, que quando o povo fosse educado (leia-se instruído) haveria: Paz, Concórdia e Respeito.
Paz: não a encontro em nenhuma parte, nem no coração dos homens!
Concórdia: há muito que desapareceu. Cada qual quer impor seu parecer, e quando não encontra argumentos, utiliza a força.
Respeito: deixou de existir, há muito: A criança, que outrora, tratava os pais por senhor, e pedia-lhes a bênção, fala-lhes, agora, do mesmo jeito, como lida com colegas; e muita sorte há, se não “vomita” termos depreciativos e ofensivos! …
Também, poucos sabem fazerem-se respeitar. Parecem crianças, com gestos de garoto.
Não admira, portanto, que a classe política – que em tempos áureos eram homens de respeito, estadistas justos e competentes, – se comportem, agora, como meninos de escola acusando-se mutuamente; baixando a linguagem, a antigos saleiros portuenses, que primavam pelas calinadas e linguarejar torpe.
Não pode haver progresso nem ordem, nos países onde quem manda não é a lei, nem a autoridade, mas quem brada mais duro; quem insulta; quem, por astúcia engana e ludibria o próximo.
É o fim da Civilização Ocidental. Da civilização, como a concebemos assente na democracia e liberdade.
E sem respeito e valores, estamos à mercê de qualquer “libertador”; a sucumbir, como sucumbiu, a orgulhosa e poderosa Roma.