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Cônsul na Califórnia preocupado com o “trumpismo” de alguns portugueses

Quando Diniz Borges chegou aos EUA, em 1968, disse em entrevista ao Diário de Notícias lembrar-se de os jovens lusodescendentes preferirem esconder as origens portuguesas. Mas hoje o cônsul honorário de Portugal em Tulare, na Califórnia, garante que as segundas e terceiras gerações sentem “orgulho” na terra dos pais ou dos avós. Seja por causa dos golos de Cristiano Ronaldo, por gostarem de fado (“na minha geração era impensável!”) ou simplesmente por Portugal estar na moda. Professor de português numa escola secundária, o presidente do CPAC – Califórnia Portuguese American Coalition, um grupo de lóbi pró português criado em 2016 – confessa contudo haver uma característica nesses jovens que o preocupa: a forma como “entram num trumpismo que vai contra os princípios” portugueses.

“Há muita coisa que Trump anda a vender que não tem nada a ver com Portugal”, explica Diniz Borges em Lisboa, onde veio participar no IV FLAD Luso-American Legislators” Dialogue. E destaca princípios como a solidariedade, a compaixão, a empatia que, “não sendo exclusivos dos portugueses ou açorianos”, são uma herança que tem muito a ver com a vida “em ilhas isoladas” dos Açores, de onde é originária 90% da comunidade portuguesa da Califórnia. E Borges também.

Acusando o presidente americano de criar “uma clivagem entre os imigrantes”, Diniz Borges diz parecer “quase paradoxal” que ao mesmo tempo que se orgulham das raízes portugueses, muitos jovens lusodescendentes tentam dizer que a história da sua família é diferente da de outros imigrantes. “Tentam dizer que os pais ou os avós foram imigrantes mas não assim. Vieram legais”, afirma.

Os pais de Diniz (com “z” porque na altura o registo recusou que se chamasse Dinis) emigraram dos Açores para a Califórnia quando ele tinha dez anos. Formado em Ciências Sociais na Chapman University e com mestrado na CSU Dominguez Hills, o professor garante que hoje mais de metade dos seus alunos não são de origem portuguesa. E explica que são sobretudo os latinos a interessar-se pelo português como terceira língua até por causa das “semelhanças com o espanhol”.

Cônsul honorário em Tulare desde 2014, Diniz Borges admite que os problemas da comunidade portuguesa são diferentes dos dos hispânicos. E das “três ou quatro chamadas” que recebe por dia, a larga maioria, explica, são de lusodescendentes que querem a cidadania portuguesa. Além do desejo de ligação a Portugal, um dos motivos, suspeita, será o ter facilitada a circulação pela União Europeia. Destacando a falta de funcionários no consulado geral de São Francisco, Diniz Borges explica ser esse um dos motivos para receber tantos telefonemas. “Porque eu ainda atendo!, ri-se.

Admitindo que muitos na Califórnia ficaram irritados quando perceberam que Marcelo Rebelo de Sousa não iria incluir o estado na sua ida aos Estados Unidos por ocasião do 10 de Junho, o cônsul honorário prefere desvalorizar a opção. “22 horas também não eram suficientes”, explica, antes de sublinhar que não quer com isso dizer que uma visita presidencial não seria importante mais tarde. Até para “cimentar” algumas das coisas que serão faladas pelo primeiro-ministro António Costa em junho.

Convencido que para as gerações mais velhas de lusodescendentes na Califórnia “Marcelo é o presidente deles”, Diniz Borges admite que para os mais jovens, o nome do presidente diz muito pouco ou é mesmo “desconhecido”.

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