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Fátima, Futebol e Festival

Hoje, dia 13 de Maio, podemos dizer que Portugal vive em pleno os seus 3 F’s: Fátima, Futebol e Festival, sustentáculo de toda uma filosofia existencial comum a um povo cuja identidade assenta em dogmas ecuménicos, sejam eles em cruz, esféricos ou festivaleiros. Peço perdão se rompi com as expectativas dos leitores mais conservadores que preferem o clássico ‘F’ de fado, da Amália por exemplo, ao ‘F’ de Festival da Eurovisão da Canção, aqui ao ritmo da ‘bossa nova’ de Salvador Sobral, o homem do momento com a sua canção “Amar pelos dois”! E quem escuta a canção “Amar pelos dois”, ao ritmo ‘bossa nova’, enquanto observa Salvador, fica na expectativa se o representante de Portugal no Festival da Eurovisão da Canção, não terá, de facto, alguém escondido debaixo da sua bossa…

Mas o que há a unir os 3 F’s: Fátima, Futebol e Festival? Fé, muita fé, resmas de fé, fé aos pontapés, se atendermos a que o futebol, na maioria das vezes, se joga com os pés. E é nos pés de 11 jogadores que muitos milhões de Benfiquistas depositam toda a sua fé para a conquista do tetracampeonato! Claro que, para isso, o Benfica terá que derrotar a equipa da cidade berço da nossa nação. Mas também há por aí quem afirme que o Benfica é uma nação, pelo que o duelo de logo à noite será, praticamente, o de uma nação contra outra nação, ou seja, terá mais ou menos características de um jogo internacional entre dois Vitórias: o de Alverca do Ribatejo e o de Guimarães. Amante como é das coisas do futebol, não me admiraria nada que Francisco viesse ao Estádio da Luz assistir ao jogo. E depois também, mais Luz menos Luz, certamente não haveria problema nenhum, porque ao fim e ao cabo, a missão de um Papa é ir no caminho da Luz, e nas despesas a apresentar ao contabilista do Vaticano bastaria Francisco indicar “fui ver a Luz”…

Luz… Procissão das Velas de ontem, manifestação de grande fé por parte de centenas de milhares de peregrinos, os mesmos peregrinos que pagam uma conta astronómica ao fim de cada mês para ‘engordar’ as contas bancárias de Mexia, o tipo que é uma espécie de Deus na Terra: dá Luz em troca de dinheiro, enquanto Deus proporciona Luz aos seus seguidores em troca de orações e boas acções, de forma gratuita… ok, ok… pronto, em troca igualmente de umas esmolas porque também é necessário pagar a conta da luz das igrejas e dos santuários… Aposto que muitos peregrinos, na Procissão das Velas, pensam “Deixem-me mas é poupar na vela para ver se uso o resto em casa e, assim, poupo na factura da luz e fico com mais dinheiro para as esmolas aos Santos Pastorinhos”.

Tudo na vida tem a ver com Luz, com o perseguir o caminho da Luz, com mais de metade dos portugueses a sonhar assistir aos jogos na Luz, com a Luz que os peregrinos trazem consigo quando circulam de noite, a pé pelas perigosas estradas que conduzem ao Santuário de Fátima, com a Luz dos telemóveis que iluminam a plateia em redor do nosso Grande Salvador enquanto Ele nos brinda generosamente com a sua majestosa melodia de amor “Amar pelos dois”. Realmente, se a Luz está associada ao Amar e ao Amor infinito, porque é que a doutrina da Igreja nos diz que se deve fechar a Luz durante o acto do Amar e do Amor? Milagre de Luz e Amor infinito era o Salvador ganhar o Festival esta noite em Kiev, isso é que era, ouviste Jacinta, ouviste Francisco? A auto-estima lusa precisa de milagres destes, ora bolas! E de bolas no fundo da baliza, também! São logo 6 milhões a berrar “golo do glorioso!” e no final umas dezenas de milhar a comemorar e a empoleirarem-se na estátua do Marquês de Pombal que nem pombos. É disto que o nosso povo gosta, meus Santos!

Pensem comigo: se o Papa Francisco vai canonizar os Pastorinhos Jacinta e Francisco da parte da manhã, em Fátima, isso é fantástico porque vai dar tempo para que eles façam o seu primeiro milagre, já como Santos oficiais, em Kiev, mais à noite: a vitória do Salvador! E não me acredito que os Santos Pastorinhos recusem alguma coisa ao Salvador, que até nem é assim tão diferente de uma ovelha, com aquele carrapito fofo e lãzudo, e isto já para não falar na letra da música que até é de inspiração bastante católica: “ouve as minhas preces”…

Tudo isto existe, tudo isto é futebol, tudo isto é Fátima, tudo isto é Festival, tudo isto é Fé!

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