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(Re)descobrir a Colômbia e a sua relação com Portugal

Situada a noroeste da América do Sul, a Colômbia tem como vizinhos a Venezuela, o Brasil, o Equador, o Peru, o Panamá e toca o Mar do Caribe e o Oceano Pacífico. É neste país que atualmente vive uma comunidade portuguesa que contabiliza cerca de 800 pessoas. O BOM DIA falou com um jovem português que, recentemente, descobriu a magia desta terra e do seu povo e garantimos-lhe que, depois de ler este artigo, vai associar a Colômbia a muito mais do que às recentes notícias sobre o Acordo de Paz e à histeria causada pela estreia da segunda temporada da série “Narcos” (um retrato da vida e do percurso de Pablo Escobar).

O nosso “guia” pela Colômbia

Luís Santos é um alentejano de Campo Maior orgulhoso do seu país. Formado em Relações Internacionais, Luís é um curioso pelo mundo e pelas relações entre os países. A sua primeira experiência profissional fora de Portugal levou-o até França (Lyon), no âmbito do Programa Leonardo da Vinci, em 2014, onde colaborou com a Associação AIDES – primeira associação francesa de luta contra o VIH/Sida de fevereiro a maio de 2014. Entre outubro de 2014 e maio de 2015, viveu e trabalhou como assistente de português em Rouen. Depois voltou para Portugal, longe de imaginar qual seria o seu próximo desafio. Foi neste contexto que decidiu abraçar uma aventura maior: inscrever-se no programa INOV Contacto, um projeto que visa apoiar a formação de jovens com qualificação superior em contexto internacional.

Saiu-lhe na lotaria a Colômbia e partiu no início de fevereiro de 2016. E a experiência tem valido a pena. “Ter a possibilidade de colaborar com a Aicep foi uma das experiências mais intensas. Aprendi muito e sou extremamente grato por isso. A lógica empresarial é completamente diferente do que estava habituado. A exigência e imediatez na execução de determinadas tarefas fez com que melhorasse muitas competências. Sair da minha zona de conforto, obrigou-me a estudar ao detalhe o ambiente de negócios deste país. Acompanhar missões empresariais exigiu-me que tivesse um conhecimento aprofundado, desde saber o preço do táxi do aeroporto à cidade, ao aspeto mais técnico que implica exportar um produto para a Colômbia. Ter a possibilidade de colaborar com a Embaixada de Portugal foi outro objetivo cumprido.”, conta.

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Após a sua experiência na Aicep Bogotá, Luís Santos aceitou recentemente a proposta de ser o representante comercial de uma empresa do setor agroalimentar, em particular dos vinhos e azeite, um dos setores que apresenta mais oportunidades no mercado colombiano. “Ainda que a Colômbia não tenha uma cultura de consumo de vinho, este aumentou exponencialmente nos últimos anos. Já se encontra algum vinho português nos supermercados e nos restaurantes, mas uma garrafa de vinho custa três vezes mais do que no nosso país. Aqui, ainda é um produto de luxo e consumido em ocasiões especiais. Estou muito motivado para abraçar este desafio porque tenho uma grande empatia por este setor enquanto alentejano e estou entusiasmado para contribuir para o processo de internacionalização da empresa que represento”, refere.

O português não hesita em referir que o seu papel é exportar e promover uma imagem positiva de Portugal junto dos colombianos, mas também sente “o dever e o gosto de partilhar uma imagem deste país renovada e atualizada”.

“Convido todos a visitar a Colômbia, o terceiro maior produto de café, o país das esmeraldas e das flores de Medellín e de tantos outros cenários, vivências e emoções”, diz Luís com orgulho. Aceite o convite.

O melhor da Colômbia

Em conversa, o jovem português confessou-nos que numerar as coisas de que gosta no seu novo país de acolhimento não é tarefa fácil. “Na Colômbia, gosto das pessoas e da sua amabilidade. Eles gostam de agradar e tratar bem o estrangeiro. O que gosto neste país é de sair da bolha da capital. Quando estou no parque da 93 sinto que estou numa mini-incubadora de “gringos”, europeus…uma fábrica de estrangeiros. Esta cidade é muito setorizada, vai do estrato 1 (o mais baixo) ao estrato 6. Ainda que a pobreza tenha diminuído e comece a emergir uma classe média, as disparidades sociais continuam a ser gritantes”, refere. “Mergulhar na verdadeira Colômbia, por mais duro que isso possa ser, faz-me sentir que eu, enquanto parte integrante de um todo, tenho o dever de contribuir para um mundo mais equitativo, justo e fraterno. Ganha-se uma sensibilidade, empatia e consciência que não se adquirem nos livros, jornais, revistas, seja o que for”, acrescenta.

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A presença portuguesa

A comunidade portuguesa na Colômbia tem vindo a aumentar significativamente. Atualmente há cerca de 800 portugueses registados na Embaixada de Bogotá. Há 10 anos, a comunidade não chegava a 300 membros. Na perspetiva de Luís Santos, “isto explica-se em grande parte devido ao contexto regional, refiro-me à Venezuela (com meio milhão de portugueses muitos optam por abandonar o país e a Colômbia é uma das opções) e ao Brasil (extremamente protecionista, a situação de muitos empresários degradou-se bastante). Este aumento dos portugueses deve-se também à aproximação diplomática e económica entre os dois países”.

E não é só o número de portugueses que está a aumentar em terras colombianas, as empresas portuguesas também: “O número de empresas ronda os 40. Umas têm representação comercial, outras têm IDPE (Investimento Direto Português Estrangeiro). A Visita Oficial do Ministro da Economia à Colômbia, no passado dia 21 de agosto, atesta que este país está no radar do investimento das empresas portuguesas. Para se ser bem sucedido, há que estudar o mercado e o ambiente de negócios, aceitar que o retorno do investimento não se verifica no curto prazo e identificar, pelo menos, um sócio local”.

A relação Portugal-Colômbia

As relações entre os dois países intensificaram-se na última década. Portugal é hoje o 7.º país com mais exportações para a Colômbia e esse facto deixa o jovem português realizado: “Tem sido um privilégio contribuir para o processo de internacionalização das empresas que procuram este mercado e identificar oportunidades de negócio. A conjuntura económica portuguesa fez com que muitos empresários olhassem para outros mercados não tradicionais das exportações portuguesas. Uma crise representa sempre um processo de aprendizagem e melhoria”.

No plano económico, com o Plano “Cuarta Generación” (4G) – programa de infraestruturas que visa aumentar a competitividade através da melhoria dos acessos, reduzindo o tempo e os custos de transporte -, Luís Santos considera que há muitas oportunidades para as empresas portuguesas do setor da construção. No âmbito académico, “tem-se celebrado protocolos de cooperação entre os dois países e estou certo que os dois países estarão cada vez mais próximos, estreitando relações”. E a proximidade não acaba aqui: “Portugal é um país amigo da Colômbia e vai ter um papel ativo no processo de paz com o envio de uma missão para a verificação da implementação do Acordo de Paz”, explica.

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A Colômbia para os estrangeiros

Luís Santos não tem dúvidas sobre o potencial colombiano no que toca à arte de bem receber: “A Colômbia acolhe bem e gosta de agradar aos estrangeiros. Tem curiosidade sobre o que vem de fora. É muito parecido com o português. Acho que um dos motivos pelos quais me adaptei tão bem é porque somos de facto muito parecidos. Se por um lado, muitos confundem Portugal com o Brasil, outros reconhecem e identificam o nosso país no mapa. Em conversa com um taxista em Cartagena das Índias, quando lhe disse que as lojas ARA faziam parte de um grupo chamado Jerónimo Martins, rimos muito porque ele pensava que eram do Cristiano Ronaldo. Muitos também apoiavam Portugal no Europeu.”

O povo colombiano

Alegria, paixão pelo divertimento e pelo futebol e a capacidade de ajudar parecem ser algumas das características de destaque dos colombianos. “Ainda que com o seu passado sombrio e doloroso, é um povo alegre, que gosta de se divertir e de aproveitar. Aqui, é recorrente ouvir-se “vamos salir a rumbiar“. É um povo que tem uma grande paixão pelo futebol. Nos dias dos jogos da Copa América, todos saem com a camisola da seleção colombiana vestida para os trabalhos, saem mais cedo e reúnem-se em grupo com familiares e amigos para assistir ao jogo. É um povo cortês e disponível para ajudar. Há muitos aspetos que devem melhorar mas é preciso entender que foi um país com um conflito armado desde 1964”, contou-nos Luís Santos.

Paz

Ainda que a missão deste artigo seja que fique a saber mais sobre a Colômbia, o seu potencial e a sua portugalidade, foi impossível não tocar no tema “Acordo de Paz” aquando da conversa com o jovem português. Do seu ponto de vista, “a assinatura do acordo de paz é meramente indicativo. É algo simbólico. O maior desafio deste país vai ser o pós-conflito. O povo é chamado a manifestar-se e a última palavra será dele. Eles exigem a verdade e o arrependimento de quem perpetuou estes crimes horrendos. Para que a paz se consolide, o colombiano vai ter que perdoar e seguir em frente”. Esta nova época de paz também será uma mais-valia para economia pois “trará também empresas, investimentos e turistas (que é já um dos setores mais representativos da economia colombiana)”.

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O que não pode mesmo perder

Se está a pensar visitar este país (ou até, quem sabe, ter a experiência de viver em terras colombianas), as dicas que se seguem são para si. Luís Santos deu-nos um roteiro de viagem que deixa qualquer um com vontade de fazer as malas:

– O centro histórico de Bogotá (o museu do Oro, o museu Botero, entre outros), subir a Monserrate e desfrutar de uma vista panorâmica sobre toda a cidade (3100 metros de altitude);
– Painel de azulejos “Monumento Lisboa Antígoa – “foi um dos monumentos que me surpreendeu no centro e curiosamente foi uma oferta de Portugal à Colômbia”;
– Parque Nacional Tayrona: “Uma das experiências mais marcantes foi caminhar de noite na selva e ficar num camping onde não há praticamente nada. Tínhamos um pequeno restaurante e a comida é divina”;
– Cartagena das Indias: “Entreposto colonial, as suas ruínas emanam história; recomendo que apreciem o por do sol no Café del Mar”;
– lhas Baru, Islas do Rosário e San Andrés: “Não podem deixar de ir lá. Se o paraíso existe, é lá! Praias idílicas, peixe fresco. Sim, sinto falta do peixe…em Bogotá nem sempre é muito seguro e deve ser comprado num sítio bom;
– Ejo Cafetero: “Fiquei em Salento, uma povoação muito simpática e acolhedora e fomos visitar uma quinta de café e ver todo o processo de transformação do grão até chegar ao consumidor final”;
– Águas termais de Santa Rosa de Cabal “devem obrigatoriamente ser incluídas no roteiro de viagem”.
– Medllín: “A cidade de Pablo Escobar que recebeu recentemente o Nobel do Urbanismo e se equipara a cidades como Singapura, do ponto de vista urbanístico”;
– Cali: “É a capital da salsa, ainda que com um cartão de visita mais reduzido, recomendo um fim de semana para os amantes de ritmos latinos”;
– Amazónia: “Ideal para quem quer uma experiência em perfeita comunhão com a natureza, alienado de tecnologias e do ruído da cidade. Só não se pode esquecer do repelente”.

Por fim, aqui ficam alguns conselhos úteis:

– Fotocopie o documento de identificação e deixe os originais no cofre do hotel (ou em local seguro caso opte por outro tipo de alojamento);
– Peça um táxi através das aplicações Easytaxi ou Uber, é mais seguro e evita a possibilidade de experienciar o “passeio milionário”, ou seja, o “passeio” em que o taxista leva o cliente ao banco para lhe extorquir dinheiro;
– Caso seja abordado por um polícia que lhe peça os documentos, nunca o faça. Solicite a identificação do polícia e diga que o acompanha à esquadra mais próxima;
– Como em todas as cidades, há locais a evitar, principalmente durante a noite no centro, como é o caso da Candelaria.
– A inflação ronda os 8% e por isso não se admire com os preços dos produtos e serviços (este ponto é variável de acordo com o estrato em que se vive).

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