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O riso do rei (conto para crianças pequenas, grandes e de todas as idades)

Em um reino muito distante, obedecendo ordem sumária do rei, todas as pessoas não podiam sorrir nem se abraçar, vivendo completamente tristes e amedrontadas. Todos aqueles que desrespeitassem, manifestando qualquer sinal de alegria, poderiam ser severamente punidos pelo maldoso rei, que também não conseguia sorrir nem abraçar, sem saber que era vítima de uma maldição que somente a descoberta do amor poderia libertá-lo.

 

Há muito e muito tempo, em um reino muito distante, vivia um rei muito, muito, muito rico. Ele podia comprar e comprava mesmo tudo o que desejava, até a honradez das pessoas… mas somente das pessoas que, como ele, eram inescrupulosas. Afinal, que outro adjetivo se pode dar a quem abdica da sua honra por um punhado de dinheiro?

Este rei era muito sério, tão sério que todas as pessoas que o rodeavam nunca viram nele qualquer sinal de sorriso. E, por medo da reação do rei ao ver alguém feliz, ninguém sorria na sua frente. Todos mantinham na sua presença a postura sempre rígida e o cenho franzido. E quando os soldados do rei flagravam alguém rindo ou se abraçando, levavam o infrator até Leônidas, que após surrá-lo ainda o deixava na prisão por longo tempo, além de obrigá-lo a pagar pesadas multas.

Todos os súditos do rei Leônidas eram instruídos a ficar sempre atentos às suas ordens repentinas, de dia ou de noite, sob sol ou sob chuva. No momento em que ele chamasse, ai de quem não obedecesse.

Mas este rei, tendo todo o dinheiro do mundo, ainda sentia que lhe faltava algo. Alguma coisa o perturbava muito e ele não descobria o que era.

O rei anterior, pai de Leônidas, havia sido um homem muito feliz e um doloroso fato mudou o seu comportamento pouco depois que ele se casou. No início do seu reinado, ele conhecera uma linda e bondosa jovem que tinha uma irmã que era também muito bonita, porém extremamente má e invejosa. Ambas sonhavam casar-se com ele, mas o rei escolheu a mão de Angélica, a jovem bondosa. Sua irmã Malina não se conformava com a escolha do rei e jurou que eles não seriam felizes por muito tempo. Ela, que era envolvida com toda sorte de bruxarias, procurou a mais famosa feiticeira daquele reino e ordenou-lhe:

— Pagarei o preço que me pedir, mas quero que faça tudo para que minha irmã Angélica e o rei se separem logo. Que Angélica morra e o rei e seus filhos, caso ele os tenha, sejam maus e profundamente tristes e nunca mais sorriam ou abracem enquanto não amarem alguém de coração puríssimo, alguém que retribua esse amor — e ria junto com a outra bruxa, pois pensavam que não existia no mundo inteiro pessoa de coração tão puro quanto o da sua irmã Angélica.

Angélica e o rei foram muito felizes durante dois anos, até que nasceu Leônidas e sua mãe morreu durante o parto. O rei imediatamente perdeu toda a alegria e vontade de viver, morrendo em seguida.

Leônidas era uma criança triste que nunca sorriu na vida, crescendo amaldiçoado pela tia Malina. Quando assumiu o trono, irritava-se com a alegria e o riso farto dos outros, até que proibiu que todos sorrissem no seu reino. Apesar de o rei não entender o motivo da sua enorme tristeza, os seus súditos também não teriam o direito de expressar qualquer júbilo. Portanto, o riso e o abraço estavam terminantemente banidos daquele reino.

Até que um dia, durante a cavalgada matinal, Leônidas puxou as rédeas do seu grande e belo cavalo, imitado pelos seus guardas.

— Parem, soldados! Ouçam: algumas pessoas estão rindo alto, gargalhando à vontade. Minhas ordens estão sendo descumpridas. Tragam-me os desrespeitosos aqui.

Cinco cavaleiros saem orientando-se pelos risos que vinham de trás de umas árvores e outros cinco permanecem protegendo o rei.

Em poucos minutos os guardas do rei trazem um menino e uma linda menina, entregando-os a Leônidas. Este, momentaneamente paralisado pelos encantos da menina, demora a falar:

— Quem são vocês? E porque agem contra a lei, rindo descaradamente?

As crianças se entreolham, sem entender as perguntas do rei, que continua:

— Vocês não foram avisados das minhas ordens? Neste reinado é sumariamente proibida qualquer manifestação de alegria. Somente ao rei e aos seus familiares é permitido o riso… e como não tenho parentes e nem mesmo eu consigo sorrir…

A menina permanece calada, mas o menino resolve interferir:

— Perdoe-nos, majestade, não sabíamos da proibição. E estamos apenas de passagem por estas terras. Viemos de muito longe, de outro reino, depois que nossa casa foi incendiada e nossos pais mortos pelos bárbaros. E estamos procurando um lugar para morar e trabalhar. Não riremos mais até sairmos do seu reino.

O rei, acostumado a conviver com homens e mulheres rudes que nem sabiam se expressar direito, se impressiona com a desenvoltura do garoto e com o rosto angelical da menina, tão pequenos e já dispostos a trabalhar para sobreviver, mas diz:

— Não me interessa a sua história. Vocês desrespeitaram a lei e serão presos até eu decidir qual a sua punição. Soldados, levem-nos!

As crianças são conduzidas ao castelo e presas em celas escuras, uma colada à outra, cada uma delas com uma cama dura, um surrado cobertor e um sanitário fedorento.

Todas as manhãs e à tarde os soldados do rei levam comida e água para os pequeninos presos.

O rei fica o tempo todo observando as crianças através de uma pequena abertura na parede das celas.

Apesar de trancadas junto com os ratos, as crianças cantam e riem todos os dias, indiferentes à proibição do rei. No início ele se irrita e lhes diz que se continuarem felizes serão punidos, mas as crianças logo se esquecem da advertência real e continuam a sorrir e a cantar, cada um na sua cela. O rei, no entanto, sem entender como alguém preso pode ser tão feliz, a cada dia mais encantado com a beleza da menina, nada faz. E o tempo passa…

Durante anos o soturno rei deixa-se levar pelas suaves melodias e pelo riso farto das crianças, até que a menina torna-se uma lindíssima moça.

— Majestade, os jovens continuam cantando e rindo todos esses anos… — os soldados avisam, esperando alguma ordem do rei.

Mas ele, mesmo sisudo o tempo todo, agora já não dava tanta importância ao fato pois estava bastante contagiado com toda aquela alegria. Tanto que, com o coração meio amolecido e com pena dos jovens, decidiu deixá-los juntos numa cela. Eles ficaram tão felizes que, que quando Leônidas levou o irmão para a cela da moça, esta não se conteve e sem pensar abraçou rapidamente o rei, cujo rosto ficou imediatamente enrubescido de emoção. Dois guardas correram para desvencilhá-la de Leônidas, mas este ergueu a mão impedindo-os e retribuiu o abraço.

Mais tarde, sentado no seu trono em frente da cela, ele resmungou baixinho:

— Como eu, sendo livre e rico, nunca consegui rir? Como estes jovens, mesmo pobres, sem casa e na prisão, continuam tão felizes?

Um dia o rei, já completamente apaixonado pela jovem, percebendo como o riso lhe fazia bem, resolve libertá-la junto com o seu irmão, sob a seguinte condição:

— Tornar-se-ão ricos e livres se me ensinarem a sorrir, mas vocês só poderão deixar meu reino depois de cumprida a missão. Então, poderão partir ou ficar. Se não me derem em trinta dias o sorriso que nunca tive, vocês morrerão. — sentencia, nem ele mesmo acreditando que seria capaz de matar os jovens.

A moça, nunca tendo falado antes — apenas sorrido e cantado — dá uma sonora gargalhada, seguida pelo rapaz, o que para eles não era nem um pouco difícil:

— Ah! Ah! Ah! Majestade, isto é muito simples. Não existe segredo para o riso. Eu e meu irmão não entendemos porque todos no seu reino são tão tristes.

— É mesmo, tudo aqui é muito estranho… — disse seu irmão — Nossos pais nos ensinaram que é preciso rir e abraçar sempre, pois quem ri é feliz e a felicidade está nas coisas mais simples. O riso contagia quem está ao nosso redor e faz bem ao espírito, mas vemos que aqui é diferente. Todos são muito melancólicos. O que acontece com as pessoas deste lugar?

Mas nem mesmo o rei sabia da maldição da qual era vítima.

— O riso forçado, o falso riso só é válido para o teatro, rei, e, apesar de não entendermos porque o senhor e seus súditos são tão sérios, lhe ensinaremos a rir, sim — a jovem promete.

— Percebemos que no seu coração não há amor, majestade. E quem ama é feliz, quem ama sorri e faz os outros sorrirem — o rapaz reforça.

O rei expede uma ordem: ninguém no seu reino poderá rir e abraçar antes dele, à exceção daquele casal de jovens professores do riso.

Os jovens são conduzidos a luxuosos aposentos e a partir daquele momento recebem o melhor tratamento e regalias que até então nenhum outro convidado do rei havia recebido.

Os dias passam e, apesar de todos os esforços do jovem e da sua irmã, o rei não esboça qualquer sinal de sorriso. Os soldados já esperam que a qualquer momento o rei mande decepar-lhes as cabeças. Porém Leônidas, mesmo sem rir, mostra-se a cada momento mais hipnotizado, mais impressionado com aquela jovem, mais apaixonado por ela. Tanto que nem lembra que o tempo está se esgotando.

No trigésimo dia o rei, que já não tinha olhos para mais nada no reino, somente para a lindíssima e delicada moça, lhe diz:

— Nunca perguntei o seu nome. Como se chama?

— Pureza é o meu nome, majestade, e o nome do meu irmão é Benigno — ela responde, com um largo sorriso para o rei.

Ele, gaguejando, lhe diz:

— Minha querida Pureza, preciso lhe confessar uma coisa: eu nunca amei ninguém e agora estou amando…

— Que bom, majestade, e quem é a moça? — Pureza pergunta, como se estivesse surpresa com aquela revelação.

— Você, claro! Eu a amei desde que a vi ainda menina, cantando lá no campo com o seu irmão.

Pureza ri lindamente e confessa:

— Oh! Majestade, eu também o amo, só esperei que me confessasse o seu amor para me declarar. Observando-o por tantos anos, sempre tão triste no seu trono, meu coração se comoveu e acreditei que havia bondade no seu peito.

Imediatamente, como em um passe de mágica, um leve sorriso se abre no rosto do rei e vai aumentado até sua boca se abrir numa completa gargalhada e ele envolve Pureza com os braços, enquanto ela também ri de felicidade. O seu irmão Benigno também ri à vontade e então todos os soldados os acompanham na mesma medida, rindo sem medo e sem economia.

E, durante alguns minutos, o palácio inteiro parece tremer com tantas gargalhadas.

O rei, agora visivelmente feliz com a libertação do seu sorriso, em seguida ordena que seus soldados saiam pelas ruas e pelos campos autorizando imediatamente o riso e o abraço para todos os súditos e eles prontamente obedecem.

Pureza e o rei casam-se e Benigno é nomeado conselheiro de Leônidas, que desde o primeiro sorriso se transforma num homem muito bondoso, sendo respeitado e admirado por todo o povo.

Desfeita a maldição de Malina pelos corações puros da jovem rainha e do seu irmão e pela nova postura do rei, a felicidade voltou aos lares de todas as pessoas daquele reino. E desde então todos podiam rir e se abraçar sem qualquer receio de punição.

Felizes os que semeiam e cultivam a alegria, a bondade e a gratidão.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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