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Uma A. Ventura (pouco) Gentil no País dos Ciganos

“Votai em mim que vos prometo prosperidade, disse o político. E o povo votou. E a prosperidade chegou, mas apenas para aquele em que o povo votou”

Livro das Ciganices

Em pouco mais de 24 horas, mais coisa menos coisa (eu nestas coisas gosto de ser preciso, daí usar com grande rigor o submúltiplo do tempo mais usado em Portugal – a coisa) registaram-se dois grandes incêndios no espaço mediático da opinião pública portuguesa. Por um lado, tivemos o cirurgião Gentil Martins, em entrevista ao “Expresso”, a considerar a homossexualidade uma anomalia. Por outro lado tivemos o candidato à Câmara de Loures, pelo PSD e CDS, numa entrevista ao “SOL”, a afirmar que “Os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado”.

Bem, mas comecemos pelos mais velhos: “a homossexualidade é uma anomalia, um desvio da personalidade“ – by Gentil Martins. Mas estavam à espera do quê? Que um homem com quase 90 anos, viesse dizer que a homossexualidade era uma coisa boa, uma coisa agradável? Mesmo que hipoteticamente ele tivesse tido uma experiência boa da homossexualidade, com essa idade o mais natural é que já se estivesse esquecido dela. Mas vamos tentar entrar dentro da cabeça deste cirurgião. A mente dele funciona numa lógica de separar e não de unir, já que ele passou a sua vida a separar gémeos siameses, logo Gentil Martins está mais habituado a desunir do que a unir, o que contraria a lógica da homossexualidade onde o expoente máximo é a união, é a partilha… do mesmo sexo. Atentem bem: o que é que um casal homossexual partilha? O sexo, pois claro! Sendo assim, toda a filosofia na qual assenta a vida de Gentil Martins é contrária aos valores e princípios da homossexualidade, uma vez que com ele não há cá partilhas, nem de sexo nem de coisa alguma! Cada um tem o seu sexo diferenciado e ponto final! E só à missionário, ouviram bem (neste caso, leram bem) fiéis leitores? E a olhar para a imagem da Virgem pendurada por cima da cama e mais nada!

Já sobre André Ventura, o que se pode dizer? Para já que antes de mencionar a palavra “ciganos” tinha o apoio de um pequeno partido e de um grande partido à Câmara de Loures. E que depois de mencionar a palavra “ciganos” ficou apenas com o apoio do pequeno partido: o PSD. Isso conduz-me à seguinte questão: Será que nas próximas eleições vamos ter cartazes com ‘slogans’ do tipo “Vota CDS o partido dos ciganos”? É que esta retirada de apoio estratégico à candidatura de André Ventura indica claramente que Assunção Cristas e as suas tropas estão com os ciganos, o que tem toda a lógica ou não fosse o seu antigo líder conhecido pelo ‘Paulinho das feiras’ e, como sabeis, grande parte dos feirantes são ciganos, pelo que a líder do partido não poderia deixar de estar ao lado de uma das suas mais importantes bases de apoio. Contudo, a leitura que eu faço das declarações de André Ventura é que quando ele disse “Os ciganos vivem quase exclusivamente dos subsídios do Estado”, Ventura estava a usar uma parábola, ou seja, não se estava a referir aos ciganos mesmo a sério, mas sim a todos aqueles políticos e governantes que ao longo das últimas décadas têm pilhado, gamado, roubado, usurpado, desfalcado, espoliado e saqueado o Estado e os contribuintes em proveito próprio! Era a esses ciganos que André Ventura se queria referir pois a esses conhece-os ele bem, mas como somos um país de vistas curtas, toca tudo e todos a cair em cima do pobre homem. Viva André Ventura: o homem é um visionário e, ainda por cima, usa recursos linguísticos só ao alcance dos grandes poetas e escritores satíricos tais como Camões e Gil Vicente!

Gentil Martins é ainda contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Será que é por causa da ementa restritiva que tem que ser adaptada na cerimónia do enlace? Hum, parece-me que o afamado cirurgião o que gosta mesmo é de uma Tripas à Moda Porto! E num casamento gay isso não é possível e o homem passa fome, coitado. É que não convém mesmo nada que o aparelho digestivo dos noivos fique demasiado empanturrado ou desarranjado, porque senão lá se vai a magia da noite de núpcias. Gentil Martins também é contra a adopção por casais homossexuais. Pois é senhor doutor, quanto mais não vale uma criança ser criada numa instituição, sem amor ou afecto, ou então no seio de uma família disfuncional, onde a mãe (e a própria criança) apanham do pai alcoólico todos os dias. Isso sim, é que contribui para o seu normal desenvolvimento emocional e psicológico. Agora no meio de dois homens ou de duas mulheres que lhe dão amor, carinho e todas as condições para o seu normal desenvolvimento emocional e psicológico, e o formam como ser humano na sua plenitude, isso não, que horror, não é senhor doutor (pouco) Gentil?

Bem, mas como vivemos no país dos ciganos, falemos agora um pouquinho de um seu ilustre representante, o ti Isaltino, aquele que costuma ter uma banca no mercado de Oeiras, onde vende tintas para branquear capitais, que até diz que vai usar a sua experiência na prisão para governar Oeiras. Quanto a mim este é o mais honesto, porque não nega o seu passado de presidiário, o que até lhe vai ser muto útil no poder, porque ao fim e ao cabo os corredores da política assemelham-se aos corredores de uma prisão: muita negociação, muito jogo sujo, no fundo, muita ciganagem…

Aliás, tendo em conta o grau de ciganagem que impera na nossa república, atrevo-me a propor a seguinte designação para as eleições (e respectivos órgãos) do nosso País dos Ciganos:

Eleições para a Ciganagem da República – Presidente Cigano.

Eleições Ciganislativas – Primeiro-Cigano.

Eleições Ciganistárquicas – Cigano da Câmara.

E termino com o seguinte pensamento: “A intolerância, seja ela religiosa, racista, à lactose ou sexual é tudo menos gentil…”

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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