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60º aniversário da emigração portuguesa para a Alemanha

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Em 2024 comemora-se o 60° aniversário do início da emigração portuguesa para a Alemanha a partir dos anos 60.

Como contributo, apresento aqui os textos que tinha escrito em 2014 e que então estava a organizar para serem apresentados em livro sob o título “EMIGRAÇÃO PORTUGUESA DOS ANOS 60 ATÉ 2014 -Testemunho de uma História de Histórias por contar” e que não cheguei a publicar.

Testemunho de uma história de histórias por contar

A 13 de setembro de 2014 a comunidade portuguesa na Alemanha celebrou o 50.º aniversário da entrada em vigor do acordo bilateral entre Portugal e a Alemanha para recrutamento de trabalhadores portugueses. Esta efeméride deveria constituir motivo para as instituições portugueses reverem os passados 50 anos de uma política sem grandes efeitos visíveis na comunidade nem na sociedade alemã e oportunidade para a sociedade portuguesa reconhecer o contributo dos emigrantes para o desenvolvimento do país com as remessas e intercâmbios possibilitados. 

Procurarei integrar aqui o rigor crítico e a subjectividade, numa mistura de “saber de experiência feito” e de teorias sobre os fenómenos migratórios. Faço-o, com todo o carinho e respeito, por aquela parte de Portugal, geralmente, esquecida e ausente. (Também a minha biografia é uma filigrana de migrante, toda ela feita de cá e lá numa atmosfera de saudade, como a dos 4,5 milhões de emigrantes lusos e lusodescendentes espalhados pelo mundo! Desde 1960 sou migrante, da terra, da cultura e do saber e por isso me sinto em casa ao sentir e descrever a vida do emigrante).

Segundo a ONU, emigrante é aquele que se ausenta do país por mais de um ano. Imigração e emigração são, geralmente, sintomas do bom ou mau estado de uma nação. A sociologia e a economia ainda não se dedicaram suficientemente a este fenómeno embora ele se venha a tornar determinante no desenvolvimento da Europa. O motivo da emigração é ao mesmo tempo individual e sociopolítico (como podemos ver explicitamente atestado, no apelo à emigração, feito pelo Governo de Passos Coelho, apelo este que revela a miopia de visão de um país com grandes problemas de futuro devido a ter uma natalidade fraquíssima acrescida da hemorragia da gente nova para o estrangeiro e uma classe política incapaz de resolver os trabalhos de casa por ela mesma.

Numa época em que o sistema económico e financeiro tenta reduzir o ser do homem ao “homo economicus”, as potências económicas procuram camuflar a defesa de interesses nacionais e da economia global com políticas de fronteiras abertas, de livre circulação de pessoas e bens. (Os actores económicos ganham com a deslocação do pessoal na direcção das máquinas/fábricas e não no caminho inverso (poupam formação do pessoal e investimento contrariando assim uma economia de orientação democrática e regionalista: em termos de indústria financeira fala-se consequentemente de capital humano e não de pessoas, concebe-se a biografia humana em torno duma economia que determina o currículo da vida, incluindo até a derrapagem da família, da classe burguesa, de identidades religioso-culturais, etc.). Com o globalismo o problema acentuar-se-á devido ao capital cada vez se desvincular mais do trabalho. Consequentemente a emigração orientar-se-á mais pela qualidade dos sistemas sociais de assistência nacionais.

As perspectivas económicas e sociais determinam o caracter mais ou menos sedentário dos grupos sociais. O mesmo fenómeno se observa no centralismo em torno das capitais e de outros grandes centros desfavorecedores da província. Os fluxos migratórios são determinados, mais que por razões individuais, por contextos económicos e políticos (de facto, a classe dominante não pensa em emigrar sem a certeza de voltar (excepcionalmente por razões de formação).

Atendendo ao novo fenómeno da emigração académica e às suas necessidades específicas, é de prever que esta geração invista mais no momento que no futuro. Consequentemente, muitas famílias emigrarão definitivamente e pessoas solteiras constituirão família no lugar de acolhimento. Os migrantes tentarão criar perspectivas estabilizadoras de vida que contrariem uma economia profundamente desintegradora. Deste modo, enquanto a velha emigração (Gastarbeiter) constituía um factor de política de desenvolvimento para economias carentes, a nova geração emigrante investirá o seu capital nos países onde se radicam (A nova geração migrante vem fortalecer a qualidade das camadas sociais dos países de imigração). Contar com as remessas desta nova geração, a longo prazo, seria menosprezar a sua inteligência económica e do seu planeamento de vida.

Leia o texto completo aqui.

António Justo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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