As gentes da minha terra
têm um sorriso áspero mas sincero
que oferecem com simplicidade
alisam o cabelo rugoso
com as mãos salgadas da faina do mar
que lhes enche as narinas e a vida
no olhar encandeado enxugam a vontade
de figos secos e medronho
têm saudades do sol nos lábios enxutos
e na nuca gretada nascem amêijoas
os seus gestos mansos abdicam de palavras
que as leve a maré que já vem subindo…
As terras da minha gente
são amarelas no verão e verdes na primavera
são aldeias brancas onde a vida descansa
são pontes de pedra sem idade
sobre leitos secos de rios que o mar já esqueceu
são colinas de árvores ermitas
são casas tranquilas deitadas ao sol
são cântaros de água fresca à sombra dos tanques
onde as lavadeiras já não cantam
são os passeios do meu avô até à venda
que eu seguia a correr entre os regatos e os pastos
para beber sumóis e lamber pernas de pau…
São estas as terras e as gentes de que eu me lembro.
JLC280103
(Foto : “Pescador de Sesimbra”, Paulo Lobo. Poema escrito para a exposição “Ó Gente da Minha Terra”, de Paulo Lobo, que esteve patente no Instituto Camões do Luxemburgo, em março de 2003)