Dizia Cruz Malpique que todos nós nascemos demasiadamente tarde para sermos originais.
Voluntariamente ou involuntariamente, plagiamos expressões, frases e até usurpamos ideias.
Assim fazemos, porque somos influenciados pelos livros que lemos, pelos amigos que temos e até pela revista ou periódico que assinamos ou compramos ao ardina. Os consagrados, os grandes escritores, como Molière, Shakespeare, Anatole France, e também os nossos Eça, Junqueiro, Camilo e Fernando Pessoa, plagiaram ou colheram ideias, imagens, argumentos, de escritores anteriores.
Mas nenhum plagiou – penso eu – como Santa-Rita Durão, Professor de Teologia, na Universidade de Coimbra.
Nasceu em Cata Preta, Nossa senhora da Nazaré do Inficionado (Brasil), em 1722. Ainda criança levaram-no para Portugal.
Estudou na Congregação do Oratório, e professou no Convento da Graça, dos eremitas de Santo Agostinho.
Em 1759, a pedido do Bispo de Leiria, lançou violenta verrina contra os jesuítas, para agradar ao Marquês de Pombal.
Arrependeu-se; ausentou-se do país, e foi viver em Espanha.
Decorria a Guerra dos Sete Anos. Portugal era aliado da Inglaterra e o nosso frade foi considerado espião.
Foge para França em 1763. É novamente suspeito, mas obtém autorização para deslocar-se a Roma, sendo recebido pelo Papa Clemente XII.
Regressa a Portugal e, 1777, e leciona Teologia, na Universidade de Coimbra
Faleceu, em Lisboa, em 1784.
O que me levou abordar a figura polémica de Frei José de Santa- Rita Durão, não é a sua biografia, mas por haver escrito o “Caramurú”, publicado em Lisboa, no ano de 1781
O “Caramurú” não passa de grosseira imitação de “Os Lusíadas”. O decalque é descarado.
Vejamos:
“OS LUSÍADAS”
“Não fiquei homem, não, mas mudo e quedo
E junto dum penedo outro penedo”
“CARAMURÚ”
“Pára um, vendo o outro, mudo e quedo,
Qual junto dum penedo outro penedo”
Pela amostra, não há duvida que plagiou Camões, mas apesar disso, o “Caramurú”, merece ser lido. Aliás, quem nunca plagiou?
Cruz Malpique, disse que todos nascemos demasiado tarde para sermos originais; e o Eclesiástico já asseverava “Que nada de novo há debaixo do Sol”.