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Alterações climáticas afetam mel da Lousã

A produção de mel certificado da Serra da Lousã ascende este ano às seis toneladas, registando uma mudança das suas características que a cooperativa Lousãmel associa aos incêndios e às alterações climáticas.

Em 2018, a quantidade do produto com denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã ficou-se pelos 900 quilos, a mais baixa dos últimos 30 anos, após os fogos de 2017 terem consumido extensas áreas florestais onde predominavam os urzais, cujas flores estão na base das características únicas deste mel.

Este ano, o mel entregue até ao momento para certificação ronda as seis toneladas, “muito longe do potencial produtivo” da cooperativa, que em anos recentes chegou a mais de 20 toneladas, disse à agência Lusa a diretora executiva da Lousãmel, Ana Paula Sançana.

“O mel DOP tem as suas características bastante alteradas”, admitiu.

Nos dez municípios da região demarcada, “está a ser muito mais claro” do que o habitual, considerando que a tonalidade escura é uma das características do mel DOP, que os apicultores vendem na Feira do Mel e da Castanha da Lousã, cuja 30.ª edição se realiza de 15 a 17 de novembro.

“Só vemos eucaliptos por todo o lado”, disse a especialista, lamentando que esta espécie exótica volte a dominar a paisagem, dois anos após os incêndios que assolaram a região Centro, em 17 de junho e 15 de outubro de 2017.

Desta vez, o mel que a maioria dos associados da Lousãmel entregou para certificação – processo que inclui a validação por um painel de provadores, entre outros requisitos legais – “também está mais fluído”.

“Acende-se aqui uma luz vermelha para as políticas florestais”, em particular nos municípios da DOP Serra da Lousã: Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Vila Nova de Poiares, nos distritos de Coimbra e Leiria.

Esta tendência, assumiu Ana Paula Sançana, “está a deixar [a cooperativa] muito preocupada”.

No entanto, há ainda “muito mel que mantém as características, onde a flora autóctone teve possibilidade de se regenerar”.

Com as alterações climáticas, incêndios, expansão das espécies exóticas e invasoras, sobretudo eucaliptos e mimosas, e diminuição das áreas florestais em que abundam as urzes e outras plantas melíferas autóctones, “não se está a ver” que as características deste mel DOP “consigam manter-se” no futuro, anteviu a técnica.

Outros problemas que ameaçam a produção de méis em Portugal são a propagação da vespa asiática, que dizima as abelhas, o furto de colmeias e os “cortes nos apoios” do Estado ao setor, alertou.

O presidente da Lousãmel, António Carvalho, partilha das preocupações manifestadas por Ana Paula Sançana.

Na última primavera, “começou tudo muito bem” na atividade apícola, mas houve depois “falta de humidade e a urze teve muito pouca vida”, referiu.

“E houve também vento frio que secou o néctar das flores”, segundo António Carvalho.

O dirigente confirmou que, “em muitos casos”, o mel colhido “está descaracterizado”, surgindo algumas produções “da cor da palha”.

Este mel reúne todas as condições para ser consumido, mas tende a afastar-se dos parâmetros fixados para a DOP, explicou António Carvalho.

Os incêndios de junho de 2017 causaram danos avultados nos apiários em três concelhos da região demarcada – Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos – a que se somou a destruição de colmeias pelos fogos de outubro, que afetaram mais 30 municípios do Centro.

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