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Ansiedade e depressões

Era eu pequenito, via pessoas dentro de uma gaiola ou pelo menos dentro de uma caixa tipo um berço que à época se usava para os bebés!

Via aquilo com algum medo. Alguém dizia que era ou doido, um maluco, um tolo que lá estava. Assim mesmo com ar agressivo.

Fisicamente também metia medo mesmo à distancia porque não ousava abeirar-me. O medo era porque as criaturas não falavam, balbuciavam de modo imperceptível e tomavam posições físicas estranhas. E era assim.

Era normal.

Para mim que não acompanhava o que se passava na realidade era estranho mas, enfim…, aceitável.

Vim a saber mais tarde que estas pessoas eram pessoas iguais a nós, apenas com deficiências físicas ou mentais (e mentais). Por isso nada os diferenciava de nós outros. Era a cultura dos povos e a saúde do regime.

Em Felgueiras, como em muitas localidades, tivemos e temos pessoas a quem chamamos de tolos ou doidos, figuras típicas, mas que de tolos eu vejo só não conseguir falarem.

Soube também que havia hospitais onde havia pessoas que estavam lá décadas, sem contacto com o exterior nem com pessoal externo, por vezes mesmo sem contacto da família.

E que mal tratadas eram as pessoas internadas nessas casas, que eram normalmente chamadas de saúde.

Ainda acontecem coisas que se não devem dizer.

Mas melhorou.

Há muitos doentes que necessitam de internamentos e já os não têm.

Há a prática de com nomes mais pomposos, à volta do termo saúde mental, fazer-se algumas consultas em hospitais normais. Uns barbitúricos e mais coisa menos coisas e os pacientes cumprem a nova lei da tal “saúde mental”. Mas não aprofundadamente.

Como há dias para tudo, também há dias do doente mental. Este, ao que me parece, ao estilo dos tempos.

Se qualquer tipo de saúde está pela hora da morte; os prazos pela hora dos esquifes, a tal saúde mental não escapa à nova teoria médica que é “tratar” e dar alta ao fim de uns tempos.

Não é por acaso que Portugal tem a maior taxa de doentes mentais e ansiedade. Ansiedade, que tal como Miguel Torga deu a ver em 1928, era coisa difícil mesmo para um poeta que era considerado um louco, disse.

ANSIEDADE foi o primeiro livro deste exímio poeta.

O que eu quero dizer é que se no tempo dos doentes estarem dentro dos cestinhos, tal era o estigma, hoje a coisa não melhorou, mas com o estigma de não poder dizer-se que se tem, nem que seja, uma depressão.

Quando se tomará, entre a sociedade, as doenças mentais, como uma doença normal com tratamento? Melhor ou pior, mas isso já tem a ver com a medicina e a prática clínica.

PS: Há vinte anos fiz um campo de férias que englobou contactos com doentes mentais, num hospital perto da capital e trouxe muito para contar…

(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).
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