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Cenas de Natal

Estamos em pleno período natalício e o que resolvem fazer os portugueses para assinalar esta quadra festiva? Ir festejar com os familiares queridos? Errado! Este ano os portugueses estão a organizar cenas de Natal nas estradas com um megaconvívio pelas rodovias de Portugal onde o ‘dress code’ é um simples colete amarelo. Cada manifestante… opsss… cada português leva uma prenda para o seu amigo secreto para que todos se divirtam à brava na festa de Natal. Aposto que as prendas mais populares irão ser bastões, cocktails molotov, garrafões de vinho tinto e outros miminhos do género. Como é bonito o espírito de Natal!

Mas parece que a contestação dos amarelos não quis esperar por dia 21 de Dezembro, dia da tal “Festa de Natal”, senão vejamos: na passada sexta-feira foi o (eléctrico) amarelinho número 25 da Carris que achou por bem dar um ar de sua graça e… pimba, descarrilou e embateu contra um prédio na zona da Lapa (por pouco que não entrava pela sede do PSD adentro), fazendo 28 feridos, como que a alertar para os problemas de manutenção na rede de transportes públicos de Lisboa. Passado um dia apenas foi o (helicóptero) amarelinho do INEM que resolveu também “manifestar-se” contra as condições de trabalho, contra as condições meteorológicas, de manutenção e sabe-se lá que mais e… pimba, estatelou-se ao comprido no chão, provocando uma tragédia com 4 mortos. Serão estes acontecimentos catastróficos maus presságios do que virá aí com os chamados ‘coletes amarelos’? A ver vamos…

PAN, PAN, PAN… e agora cenas de Natal bué loucas: tempos houve em que um homem levava com um processo em cima se chamava vaca ou porca a uma mulher da vida. Com a entrada em cena do PAN e do lobby animal, hoje em dia um homem leva com um processo em cima mas é se chamar mulher da vida a uma vaca ou a uma porca. Ainda há dias estava sentado no café e pude escutar o seguinte diálogo entre duas amigas:

-Então no calor da paixão eu disse-lhe “trata-me como uma cadela”.

-E ele o que fez?

-Levantou-se, disse que me ia processar por ofensas contra os animais e foi-se embora.

-A sério amiga?

-Sim, a sério! Adivinhava lá eu que o gajo era do PAN…

Não vou para aqui desatar a fazer piadas sobre provérbios com animais e com o PAN porque essa temática já foi mais do que esgotada nas redes sociais, mas deixo a seguinte questão em período natalício: Já que é “Olho por olho, dente por dente”, e é para levar tudo no sentido literal como querem os literalistas do PAN, para quando a retirada dos malucos, dos cegos, dos coxos e demais portadores de deficiência dos provérbios populares? “Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo” ou “Em terra de cegos quem tem olho é rei” são alguns exemplos de provérbios que o PAN não censura porque, pelos vistos, para os literalistas do PAN em primeiro lugar estão os animaizinhos e depois os cidadãos portadores de deficiência. Ainda há dias assisti à seguinte cena de Natal entre um militante do PAN e um cego em compras natalícias, acompanhado do seu cão-guia (um magnífico labrador retriever, diga-se de passagem, um dos cães mais usados como guias para invisuais):

-Ai coitadinho! – vociferou o militante do PAN.

-Detesto que me chamem de coitadinho – retorquiu o cego.

-Estava a falar do cão, ó cego idiota! – Esclareceu o militante do PAN que também era do IRA pelo que, acto contínuo, pegou no labrador e desapareceu com o animal para parte incerta, tendo deixado o cidadão invisual sozinho e desamparado na loja. Como é bonito o espírito de Natal!

Então e que dizer dos alentejanos que são vítimas de bullying nos ditados populares? Pois é… o PAN está-se a obrar para eles todos! O PAN já emitiu um comunicado em que condena o presépio tradicional de Natal, propondo aquilo que considerada ser o seu presépio amigo dos animais e da natureza: a vaca é substituída por um pacote de leite de soja, no lugar do burro colocam a figura do Zé Povinho enquanto os camelos dos Reis Magos são substituídos por trotinetes eléctricas. Já só falta dizerem que em vez de ouro, incenso e mirra, os Reis Magos ofereceram a Jesus um cartão visa gold, um iPhone e uma subscrição da Netflix… Como é bonito o espírito de Natal!

Relativamente às cenas de Natal Divinas, tenho um amigo que me está sempre a dizer “Deixa que Deus te guie na vida” e neste período natalício tenho pensado à séria neste conselho desse meu amigo. Mas vejamos a coisa: acho que o Gajo (falo de Deus, por isso coloco Gajo com “G” maiúsculo) é um perigo a conduzir: afinal, não dizem que Deus faz mil e uma coisas ao mesmo tempo? A sorte dele é ainda não ter sido apanhado pelo sargento Judas da GNR a conduzir enquanto ajuda os coitadinhos e necessitados, senão era multa na certa e, muito provavelmente, cassação da carta de condução. E depois como é que era? Já estão a imaginar o Papa Francisco a anunciar do alto da sua janela, do Vaticano para o Mundo: “Cari fratelli, Dio não vos pode guiar durante os próximos seis meses porque ficou sem carta de condução. Mi dispiace molto!” Deus devia mas era pedir ao Pai Natal um carro da Tesla com sistema de condução autónoma para, assim, poder guiar sem quaisquer problemas os seus seguidores na imensa rede social que é a religião católica. Como é bonito o espírito de Natal!

E as cenas de Natal à inglesa? Quando os britânicos votaram no referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia, fizeram-no com o espírito e o ânimo de quem faz um ‘like’ numa publicação ou num evento numa rede social sem sequer terem em conta as possíveis consequências do seu acto. Votaram para sair? Sim! Mas querem que tudo continue na mesma? Sim! O Brexit está a tornar-se a paródia europeia, uma espécie de sketch do papagaio morto dos Monty Python: só Theresa May ainda parece acreditar que o papagaio está vivo, neste caso, só ela parece acreditar num possível acordo com a UE. O Brexit parece estar a tornar-se, a cada dia que passa, numa brincadeira de crianças birrentas e mimadas, anda para mais com o problema da fronteira entre as duas Irlandas, o qual penso poder ser resolvido recorrendo a um argumentista de novelas da TVI: “Uma espécie de país dividido, duas religiões, um backstop bem lubrificado”. Tenho para mim que ainda vamos ter um Brexitexit (uma saída do próprio Brexit), bastando para tal colocar Theresa May a esfregar a ciática de Jean-Claude Juncker com Voltaren emulgel na noite de Natal enquanto Juncker, vestido de Pai Natal, lhe canta “Santa Claus Is Coming… Oh Oh Oh… (to Town). Como é bonito o espírito de Natal!

A política é sempre um terreno fértil para cenas de Natal e podemos começar por André Ventura que disse: “Deixei de poder ir às compras em hipermercados”. Temos assim André Ventura a fazer as suas compras de Natal em feiras, junto dos ciganos que ele tanto adora. Os governantes também pouco ou nada têm feito para melhorar as condições das prisões assim como as condições de trabalho dos guardas prisionais e as suas carreiras. Atrevo-me a dizer que um político só começa a olhar a sério para estas questões quando… vai dentro. Jerónimo de Sousa reivindica louros do aumento de pensões e reposição do subsídio de Natal. Mais um pouco e está a convencer o eleitorado de que é ele o Pai Natal. E já repararam nas imensas parecenças físicas entre o Pai Natal e o Jaime Marta Soares? E ambos adoram oferecer carrinhos que fazem “tinóni, tinóni”… a delícia de qualquer criança e, claro, do presidente Marcelo, que só não foi para bombeiro porque no seu tempo de estudante não havia orientação vocacional nas escolas. Afinal é ele sempre o primeiro a chegar a qualquer cenário de desgraça! Marcelo disse hoje que vai passar o dia de Natal na ala pediátrica do S. João. Pelo amor de Deus, senhor presidente, as pobres crianças já têm sofrimento que chegue. Como é bonito o espírito de Natal!

Temos também as cenas de Natal ambientais. O futuro ministro do Ambiente do Brasil foi acusado de crimes eleitorais. É caso para dizer que, para futuro ministro do ambiente, a sua pegada eleitorológica é preocupante. Mas antes crimes eleitorais do que ambientais, dirão os defensores do ambiente e do planeta. E no Brasil qual é a prenda para quem comete crimes? Isso mesmo: um cargo de ministro! E a pegada colonialista? Não deixa de ser irónico que a final da Taça que comemora a libertação dos povos sul-americanos do jugo colonialista tenha sido jogada precisamente na capital de um dos países que mais oprimiu esses povos. É uma espécie de Síndrome de Estocolmo, mas em versão esférica. Paradoxalmente foi o seu grande opressor histórico a oferecer as condições para que o jogo entre o Boca Juniors e o River Plate se realizasse em paz e segurança. Este ano o Pai Natal já fez saber que não se vai deslocar à América Latina já que corre o risco de ser assaltado, sequestrado e, quiçá, mesmo assassinado, o que poria em risco a entrega das prendas a todos os meninos e meninas dessa região do globo onde se falam as línguas de Camões e de Cervantes de uma forma muito aberta e descerrada. Assim, à semelhança do que aconteceu com a final da Taça Libertadores, o Pai Natal já fez saber aos meninos e meninas da América Latina que, caso queiram receber as suas prendas no próximo dia 25 de Dezembro, apenas terão que se deslocar ao Estádio Santiago Bernabéu em Madrid, Espanha. E que dizer da velha tradição de passar o Natal em família já que todos os estudos indicam que é no Natal que acontecem as grandes discussões familiares? Sim, é verdade! Está mais do que provado que o Natal faz mal ao ambiente… familiar! Pais, filhos, irmãos, cunhados, tios, tias, avôs, avós, sobrinhos, sobrinhas, enteados, enteados, padrastos, madrastas… todos juntos numa noite por norma regada a muito álcool costuma dar uma mistura mais explosiva do que uma dúzia de homens-bomba do daesh a competir por 69 virgens no paraíso. E como é que começam as discussões? Simples: Com a escolha de quem se vai vestir de Pai-Natal: “Vais tu que és o/a mais gordo/a e com mais rugas!” Como é bonito o espírito de Natal!

Por último, cenas de despedidas natalícias, com votos de grandes comezainas e bebedeiras para todos os meus leitores porque não é todos os dias que se comemora o nascimento de Jesus. E se Jesus gostava de comer e de beber à grande e à judaica, então sigamos-lhe o exemplo! Mas atenção: nada de conduzir! Deixem-se conduzir pelo Pai de Jesus. Afinal, se Jesus bebia o que bebia era porque também se deixava conduzir pelo Pai! Votos de um Natal mesmo Bom Bom Bom para todos vós!

Daniel Luís

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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