Conselheiro lamenta falta de esclarecimentos sobre deportações nos EUA

O conselheiro das Comunidades Portuguesas pelo círculo de Washington DC reuniu-se quinta-feira com o embaixador de Portugal para abordar as deportações previstas pelo executivo norte-americano, lamentando na sequência a falta de “esclarecimentos” por parte do Governo português.
Num comunicado enviado à Lusa após a reunião, o conselheiro Mário Francisco Ferreira indicou que não teve acesso a qualquer plano de contingência nem ao número de possíveis deportados, salientando, porém, que o embaixador, Francisco Duarte Lopes, e a Embaixada manifestaram-se abertos à colaboração com a comunidade portuguesa residente nos Estados Unidos.
“Foi uma discussão muito franca sobre vários assuntos, mas, infelizmente, sem esclarecimentos sobre outros [temas] críticos para a comunidade. A discussão foi muito ‘diplomática’, o que significa que muito pouco foi partilhado/revelado por parte da Embaixada. As perguntas diretas foram evitadas”, indicou o conselheiro, também conhecido como Frank Ferreira.
De acordo com o conselheiro, foi-lhe explicado na reunião que existem duas grandes categorias de potenciais deportados: cidadãos que “ultrapassam o período de permanência autorizado” e os cidadãos acusados de crimes.
“Além disso, e apesar de ter perguntado diretamente ao embaixador – pelo menos duas dúzias de vezes – ele não apresentou nem partilhou uma cópia do plano de contingência de Portugal”, criticou, em comunicado.
Ferreira adiantou ainda que lhe foi transmitido que “nem os Governos dos Estados Unidos e de Portugal, nem a Embaixada conhecem o número de portugueses que serão deportados”.
“Continua a não existir uma ‘linha direta’ para dar orientações ao público potencialmente em risco”, frisou ainda o conselheiro.
“No lado positivo da conversa” que manteve com Francisco Duarte Lopes e com o chefe de missão adjunto, Pedro Carneiro, Ferreira destacou a disponibilidade manifestada pelo embaixador para “colaborar ou estar recetivo a projetos apresentados pela comunidade”.
A Lusa entrou em contacto com a Embaixada de Portugal em Washington, que remeteu qualquer esclarecimento para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Na qualidade de membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), órgão consultivo do Governo para a emigração, Mário Francisco Ferreira tem sido uma das vozes mais críticas sobre a falta de “orientações e planos do Governo Português” para a eventual repatriação de cidadãos nacionais.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu no seu discurso de tomada de posse, em 20 de janeiro, que irá expulsar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, uma das principais promessas da sua campanha eleitoral, durante a qual prometeu levar a cabo a “maior deportação em massa da história” do país.
Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna de 2022, o ano mais recente com dados disponíveis — embora Trump tenha afirmado, sem evidências, que o número real é cerca do dobro.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros afirmou que eventuais deportações de portugueses em situação irregular nos Estados Unidos não terão “um impacto assinalável” e que o Governo “está preparado” e a trabalhar em articulação com o governo dos Açores, que, por sua vez, está a preparar um plano de contingência para acolher emigrantes açorianos que venham a ser deportados por Trump.
Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que ainda não foram deportados portugueses ou lusovenezuelanos dos Estados Unidos, desde que Donald Trump anunciou a sua campanha de deportações, e disse que, se regressarem, terão “um acompanhamento próprio”.
Paulo Rangel falava na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, em resposta ao deputado socialista Paulo Pisco, que acusou o Governo de “desvalorização da situação”.
“Há uma situação de verdadeiro terror, de medo por parte da comunidade portuguesa que está nos vários estados dos Estados Unidos e que têm medo de sair à rua”, disse Pisco.
E adiantou: “Muitos estabelecimentos comerciais dos portugueses, e que os portugueses estão habituados a frequentar, estão vazios, porque as pessoas têm medo de sair à rua”.
Rangel recusou visões “catastróficas” e referiu que o Governo português está a acompanhar, “ao milímetro, através dos postos consulares, das embaixadas e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a situação dos portugueses indocumentados e ilegais”.
O ministro indicou que o executivo já tem uma ideia de quantos portugueses se encontram nesta situação, escusando-se a revelar um número.