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Deixem os jovens escolherem a profissão

Estava mergulhado em fofa poltrona cor de palha, assistindo a movimentada novela, daquelas que são produzidas para inculcarem nefastas ideologias e fomentar a malfadada Nova -Moral, quando me assaltou um sono imperioso.

Enfastiado, peguei na “Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires” de Frei Luís de Sousa, livro que repousava esquecido sobre o regaço, para possível releitura.

Abri-o ao acaso, folheei-o, e deparo com a seguinte texto, que despertou a indolência preguiceira:

“Dura jurisdição, por não dizer tirania, exercita hoje muitos pais, sobre as condições e natureza dos filhos. Em nascendo, já fazem a um clérigo, a outro frade, a outro soldado; de espreitar a inclinação e jeito que cada um tem para as cousas, não há tratar. Assim fica mal letrado o que fora bom sapateiro, e não é bom soldado o que fora um religioso” – Lº1, Cap:II.

Esse parecer faz-me recordar, senhora, que visitava a casa de meu pai, que tendo dois filhos, logo lhes talhou o destino – um seria doutor; outro, padre.

Se o médico foi excelente clínico, o padre, não digo que fosse mau sacerdote, mas ordenou-se sem vocação. Duvido que fosse feliz.

Ouço, por vezes, mães asseverarem rijamente: “Quero que meu filho seja o que eu nunca fui!”, como se o filho não tenha o direito incontestável de escolher livremente a vocação e o destino.

Conheci, também, no Porto, costureirinha que casou com pequeno industrial. Eram pais de garotinha esperta e inteligente.

Certo dia alguém lhe recomendou que, durante as férias escolares, colocasse a menina a trabalhar na empresa, para melhor conhecer a fabrica, que um dia seria sua.

Abespinhou-se indignada, declarando quase irada: “Minha filha não tem necessidade de trabalhar. Será doutora!”

Cai bem aqui, igualmente, o que escutei quando era rapazote, a senhora de fartos bens, que a filha havia de casar com um médico, porque dinheiro já o tinha, faltava-lhe ter médico na família!…

No tempo que correm, frequentam a Universidade muitos jovens, porque seus pais exercem a tirania (para usar o termo de Frei Luís de Sousa,) para saciarem o prazer de terem filho doutor.

Aconselhem a criança, mostrem-lhe a vantagem de prosseguirem nos estudos, mas deixem-na escolher livremente a profissão. Caso contrário, teremos médicos que seriam excelentes advogados e professores que seriam ótimos agrónomos.

Humberto Pinho da Silva

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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