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“Imos a Portugal, faremos alheiras”

© DR

“…não podendo estes comer carne de porco por imposição da sua fé, imaginaram um enchido, que, embora semelhante aos enchidos que por essa época eram o prato forte das gentes, não levasse a carne proibida”.

Francisco Manuel Alves

A alheira, não é um simples enchido, foi o enchido que salvou um povo da inquisição. 

A história da alheira tem início em 1492, quando o rei Fernando de Aragão e a rainha Isabel de Castela, invadiram o Palácio de Alhambra, em Granada, que ainda era um pequeno forte mouro dentro da península ibérica. Conhecidos como “reis católicos” pela devoção cristã que mantinham, suas Altezas passaram a perseguir os judeus espanhóis por acreditarem que a sua fé e devoção poderia estimular os novos convertidos cristãos a retornar ao judaísmo. 

Com a Inquisição Espanhola, os judeus espanhóis fugiram para Portugal, onde o rei D. João II os acolheu até o século XVI. Mas a fé cristã ganhou força em Portugal e o reino português se alinhou à Espanha a perseguir qualquer pessoa que não fosse católica. 

Sem ter para onde ir, os judeus da península ibérica encontraram uma forma de enganar as punições dos reis fingindo-se cristãos. Na região ao norte de Portugal, em Mirandela, o disfarce foi levado ao pormenor. Como o judaísmo proíbe a alimentação com carne de porco, uma das formas que os inquisidores encontravam de descobrir os farsantes era ver se as portas de suas casas tinham linguiças de porco penduradas. Os judeus criaram, então, uma “linguiça” feita com pão e frango, que se parecia com a tradicional linguiça de porco, a alheira, que enganou por muitos anos os oficiais da realeza.

Hoje, é uma relíquia da gastronomia portuguesa, quem não gosta de uma rica alheira acompanhada de batata cozida, grelos e ovo estrelado? 

Ingredientes da alheira caseira

Meio frango do campo

Meio Kg de pão de trigo

200 G de cenoura

1 ramo de salsa

2 folhas de louro

Tripa seca

1 colher (sopa) de colorau

7 dentes de alho

1 piripiri 

Confeção

Coza o frango e a cenoura em água suficiente para as cobrir, (de modo a obter no final da cozedura um caldo gordo e forte) e também com os alhos descascados, o piripiri, a salsa e sal.

À medida que o frango e a cenoura for ficando cozido, retire, e desfie muito bem; esmague a cenoura e desfie a carne. Lave muito bem e demolhe por 30 minutos a tripa seca.Corte o pão em fatias finas para um alguidar.

Regue o pão com o caldo quente e tape-o com um pano durante alguns minutos; depois desfaça muito bem o pão com uma colher de pau e, junte-lhe o frango desfiado a cenoura esmagada e uma colher de (sopa) de colorau, mexendo bem; se estiver muito rijo, junte-lhe um pouco de caldo, mas pouco, pois deve obter uma espécie de açorda rija. Retifique os temperos e encha as tripas enquanto o recheio está quente, quando frio custa a trabalhar.

Vá enchendo, atando e cortando as alheiras com 15 cm de comprimento.

Não se esqueça de as atar bem nas pontas.

Depois de prontas, convém deixá-las no fumeiro se possível, ou no frigorífico durante 1 ou 2 dias.

NOTA IMPORTANTE

O caldo tem que ficar mesmo gordo; caso contrário terá que lhe juntar um pouco de banha ou azeite, o que lhe altera um pouco o sabor.

Estas quantidades dão +- para 10 ou 12 alheiras.

Normalmente 1 liaça de tripa seca dá para 3 dúzias de alheiras.

Dévora Cortinhal

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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