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“Jane Eyre” de Charlotte Brontë

Ficha técnica

Título – Jane Eyre

Autora – Charlotte Brontë

Editora – Ediclube

Páginas – 486

Opinião

Querida Jane! Querida Jane Eyre que me aconchegou durante uma semana particularmente caótica e me proporcionou, página a página, aquele refúgio de que tanto necessitava!

Não foi a primeira vez que privei com Jane e o seu amado Mr. Rochester. Tenho, desde os meus anos de adolescência, um livro da Biblioteca Juvenil que se intitula A paixão de Jane Eyre e que, até há bem pouco tempo, pensava conter toda a narrativa escrita por Charlotte Brontë. Qual não foi o meu espanto, quando, um dia destes, ao desfolhar um exemplar da obra numa livraria, constatei que estava errada e que havia muito mais na história de uma das minha heroínas clássicas favoritas do que eu pensava.

Como sabem, estou a dedicar o mês de março à literatura feminina, à literatura escrita por mulheres e a obra de Charlotte Brontë, uma autora determinada, corajosa e à frente do seu tempo, encaixaria que nem uma luva na temática. Por isso, voltei à biblioteca da terrinha (já não entrava lá desde janeiro) e trouxe comigo Jane Eyre e a sua história integral, completinha, sem lhe faltar absolutamente nada.

As primeiras páginas, dedicadas à sua infância e juventude, trouxeram reminiscências das leituras anteriores (sim, conheço Jane desde a minha adolescência, mas reli, há mais ou menos seis anos, a sua história condensada e cortada no exemplar que tenho da Biblioteca Juvenil), mas foi como se estivesse a entrar pela primeira vez na sua vida. Sofri com ela as agruras da temporada que ela passou em casa de uma tia que apenas a suportava porque havia feito a promessa de cuidar dela ao seu falecido marido. Doeu-me muito ler a descrição da noite terrível que ela passou no quarto vermelho apenas porque tinha reagido aos insultos e à violência que lhe infligiu o seu horrível primo. Fechei o punho de satisfação e gritei interiormente “Boa, Jane, é assim mesmo” quando a “minha” menina não se calava e respondia à sua maldosa tia sempre que esta lhe apontava defeitos, a criticava e a menosprezava. Senti um alívio momentâneo quando a mesma decidiu livrar-se da sobrinha indesejada e enviá-la para um orfanato, onde viviam e estudavam outras órfãs cujas famílias já haviam morrido ou não tinham capacidade financeira para sustentá-las.

Em Lowood, Jane, uma menina de apenas dez anos, crescerá num ambiente despojado, sem qualquer tipo de luxo, mas não será isso que impedirá a “minha” menina de crescer, de fazer amizades e de chegar à idade de dezoito anos como ex-aluna e professora de outras meninas que, como ela, tiveram que fazer do orfanato o seu lar.

Com a partida de alguém muito chegado, Jane percebe que está também na hora de ela mesma deixar as paredes de Lowood e aventurar-se no mundo. Põe um anúncio no jornal e recebe apenas uma resposta e que a levará a Thonfield, onde se empregará como preceptora de uma menina e encontrará o amor da sua vida.

Não me quero alongar mais sobre a narrativa, apesar de saber que é sobejamente conhecida de muitos e muitos leitores e que não iria revelar nada de novo. Quero apenas continuar a prestar homenagem a uma mulher e escritora que admiro profundamente, que, à semelhança da protagonista Jane Eyre, tentou ser dona de si mesma e da sua vida numa época em que às mulheres quase tudo lhes estava vedado, nascendo somente para casar, ser uma esposa e mãe dedicada, aprender os lavores domésticos e governar uma casa. Sou fã assumida de Charlotte Brontë, inclusive mais do que da sua irmã Emily. Sinto um prazer e uma carinho muito grandes em estar com um dos seus livros na mão, recuar no tempo, adaptar-me de novo a um estilo de escrita diferente do que rege os autores da atualidade, refrear a vontade de avançar nas páginas para procurar os momentos em que realmente a ação avança e apreciar aqueles em que “nos sentamos” ao lado do narrador/personagem e ouvimos/lemos o que ele nos tem para dizer sobre alguém, sobre um espaço e sobretudo sobre tradições, costumes e leis sociais muito enraizadas na vida de todos.

Por fim, não quero terminar sem partilhar convosco o amor e a predileção que tenho pelo casal desta obra. Adoro a Jane, a sua impulsividade, a sua honradez e a sua determinação muito feminina, mas devoto o mesmo amor pelo colérico e tempestuoso Mr. Rochester. Os dois derretem o meu coração, é uma delícia ler os seus diálogos e abre-se sempre um sorriso ao ver como a pequenina e frágil Jane domina com as suas ideias e um pouco de manha feminina o gigante e irascível Edward Rochester. Os dois, ao lado de Elizabeth e Mr. Darcy, de Orgulho e Preconceito, serão para todo o sempre dois dos meus casais favoritos!

Se houver ainda alguém que não tenha lido Jane Eyre, por favor, faça-o! É um clássico intemporal e só o é porque é realmente bom!

NOTA – 10/10

Sinopse

Jane Eyre, pobre e órfã, cresceu em casa da sua tia, onde a solidão e a crueldade imperavam, e depois numa escola de caridade com um regime severo. Esta infância fortaleceu, no entanto, o seu carácter independente, que se revela crucial ao ocupar o lugar de preceptora em Thornfield Hall. Mas, quando se apaixona por Mr. Rochester, o seu patrão, um homem de grande ironia e algum cinismo, a descoberta de um dos seus segredos força-a a uma opção. Deverá ficar com ele e viver com as consequências, ou seguir as suas convicções, mesmo que para tal tenha de abandonar o homem que ama?

Publicado em 1847, Jane Eyre chocou inúmeros leitores da Inglaterra vitoriana com a apaixonada e intensa busca de uma mulher pela igualdade e a liberdade.

in O sabor dos meus livros

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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