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José Mindlin: a loucura mansa pelos livros

A magnitude de José Mindlin como empresário e intelectual, aliada à sensível e profunda reflexão sobre as questões nacionais e a raro posicionamento ético, que deveriam servir de exemplo à nossa elite empresarial e política, tornaram-no verdadeira unanimidade nacional.

Nascido em São Paulo, em 1914, aos 16 anos já era redator de O Estado de S.Paulo. Aos 22, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, passa a advogar, até fundar, em 1950, uma empresa pioneira no campo da metalurgia no Brasil, a Metal Leve.

Nos duros anos da ditadura militar assumiu, a conselho de seu dileto e querido amigo Antonio Candido, a Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. No entanto, o trágico e nefasto assassinato do jornalista Wladimir Herzog, nos calabouços do então Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS), levou-o a deixar o cargo.

Membro das Academias Brasileira e Paulista de Letras, presidente da Sociedade de Cultura Artística de São Paulo, Aliança Francesa, Fundação Vitae, Fundação Crespi Prado e do  Conselho Editorial da Edusp (Editora da Universidade de São Paulo), era também conselheiro dos museus de Arte Moderna de Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro,  Arte Sacra (SP) e Lasar Segall (SP).

Intelectual do ano de 1998, recebeu da UBE (União Brasileira de Escritores) o Prêmio Juca Pato. Sua bibliografia inclui os títulos Uma vida entre livros; No mundo dos livros;  Memórias esparsas de uma biblioteca; Cartas da biblioteca Gita e José Mindlin; Destaques da biblioteca indisciplinada e Reinações do menino Mindlin, além da participação em mais de uma dezena obras, na condição de coautor.

Como editor trouxe a lume as reedições de A Revista; Revista de AntropofagiaVerdeRasm; Philomática; Homenagem a Manuel Bandeira; da primeira edição de A menina do narizinho arrebitado; A gravura de Lasar Segall; O desenho de Lasar Segall, dentre outras de vasta relevância na constituição de nossa história literária.

Amigo de escritores da estatura de Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Pedro Nava, Paulo Duarte, Guilhermino César e Rubens Borba de Moraes, teve com muitos deles intensa correspondência.

Sua imensa biblioteca, o mais importante acervo privado do país, com aproximadamente 40 mil títulos, formada desde quando tinha 13 anos, teve o núcleo a que denominou brasiliana, com cerca de 15 mil obras, doado, em 2006, à Universidade de São Paulo. Nesse núcleo estão, por exemplo, os manuscritos de Grande sertão veredas, de Guimarães Rosa, e de Vidas secas, de Graciliano Ramos.

Costumava dizer que “o livro exerce uma atração multiforme, que vai muito além da leitura, embora esta seja um ponto de partida fundamental” e que “num mundo em que o livro deixasse de existir, não gostaria de viver”. Faleceu na capital paulista, em 28 de fevereiro de 2010.

 

Sobre o autor do artigo: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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