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Joseph Goebbels e as eleições de 10 de março

Acabei de ler há pouco tempo um livro fascinante, “Últimos dias em Berlim”, finalista do Prémio Planeta 2021, da escritora Paloma Sánchez-Garnica. O livro é um notável e bem construído romance, passado entre Moscovo e Berlim, cobrindo um dos períodos mais negros da História da Humanidade do século XX. 

Enquanto a parte mais lúdica (e trágica) se desenrola, a escritora vai-nos mostrando como os nazis de Hitler, lenta- mas inexoravelmente, se vão apoderando do poder. A autora fá-lo mostrando como os nazis seguem, um a um, os 11 princípios da propaganda de Joseph Goebbels (Ministro da Propaganda na Alemanha Nacional-Socialista entre 1933 e 1945) para conquistar os corações dos alemães, enquanto lhes anulam o bom senso e a razão. 

Em vários países europeus, hoje, estão a tratar de fazer o mesmo aos eleitores que serão chamados a votar ao longo deste ano. São mais de 3.000 milhões de cidadãos em todo o mundo os que serão solicitados em 2024 a comparecer a eleições nos seus respetivos países. 

Portugal, fruto das circunstâncias absurdas em que os nossos próprios partidos políticos nos colocaram, precisamente no ano em que celebramos os 50 anos de uma democracia incipiente e débil institucionalmente, irá muito provavelmente ter nada mais, nada menos, do que quatro processos eleitorais, se a Madeira vier a ter um, o que iremos saber em Março. Caso contrário serão três. Isto se MRS não for “impeached”, ou se demitir… 

A primeira eleição, a dos Açores, já foi, e acabou por castigar o partido (IL) que apostou na instabilidade, ao tirar o tapete à solução governativa que tinha apoiado até então, dando à formação política que quis prejudicar (PSD), a possibilidade de ganhar as eleições pela primeira vez em mais de 30 anos (o povo parece tonto, mas não é não, “seu Nacib”, diria a Gabriela…).

A 10 de Março de 2024, teremos as eleições legislativas. Caem precisamente a meio do período daquela que era a maioria absoluta mais incrível que alguém tinha conseguido obter em 50 anos de democracia, a de António Costa e do seu PS. A última que provavelmente veremos, pois com a fragmentação partidária dificilmente voltaremos a ter uma maioria absoluta. Esta eleição de Março é portanto um processo eleitoral que nunca teria tido lugar, se a corrupção, por um lado, e a gestão incompetente de um grande número de elementos da “entourage” íntima de António Costa, por outro, não o tivessem levado a demitir-se. 

Não foi por falta de avisos atempados, que lhe chegavam de todos os lados (só à minha conta foram mais de uma dezena). Costa escolheu para seus fiéis e incondicionais “compagnons de route” vários elementos da “entourage” de Sócrates (ele próprio era um), e com isso tramou-se nas duas vertentes que mais marcaram uma governação errática e desastrosa: corrupção e incompetência. Quando os casos escabrosos surgiam,  Costa apoiava e encobria, em vez de atalhar, largando logo a batata quente, e substituindo de imediato os responsáveis pelos “casos e casinhos”. Tramou-se, e poderá ter tramado o PS pelo caminho.

Teremos ainda umas eleições europeias a meio do ano, uma que os portugueses sempre ignoraram olimpicamente, premiando-as com taxas crescentes de abstenção, porque já viram que são umas eleições que apenas servem para perpetuar uma classe de escroques elitistas, cujo principal objetivo é ficar bem na vida financeiramente, mas que nesse processo tomam decisões sem respeitar a idiossincrasia dos países. 

Esta gente conseguiu enfraquecer a Europa dos 27 a um ponto tal em que a nossa coesão, identidade, cultura, hábitos, etc. estão sob ataque cerrado de “alienígenas”. Não, não sou “Chegófilo”. Sou europeu, orgulho-me de ser português, e exijo que os meus governantes defendam os nossos interesses, em vez de ser uns vendilhões do templo, que para receber uns milhões da Europa se sujeitam a regras que destroem a nossa essência, idiossincrasia, hábitos, cultura, etc… Agricultura, pescas, indústria, (quase) tudo vendido.

Infelizmente a percepção dos povos europeus chamados a votar em Junho é que o voto dos cidadãos europeus pouco conta, pois a “burrocracia” em Bruxelas continua em aumento. Espero portanto taxas de abstenção históricas (e desejo ardentemente estar enganado).

Antes das Europeias, ou, quem sabe até depois, poderá ter lugar uma eleição regional na Madeira, graças ao monumental escândalo de corrupção maciça no topo do poder regional, que rebentou nessa região autónoma. “O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente” dizia John Dalberg-Acton. Caso mais claro disso é o que se passou na Madeira praticamente durante todo o consulado de governação do PSD (Alberto João Jardim, de 1978 a 2015, e Miguel Albuquerque, de 2015 até hoje), e que culminou com a escandaleira monumental que nos caiu como bomba de neutrões em cima, agora no início de 2024.

Tendo assistido não tanto aos debates, insuportáveis, mas a algumas análises e comentários que vão saindo depois deles acontecerem, decidi promover uma versão diferente do Polígrafo da SIC: o “Goebbelsiómetro”, uma espécie de “Votómetro”, não para ver quem ganha os debates televisivos, mas para quem, na opinião dos votantes (vocês, queridos e pacientes leitores), ganha a competição como melhor discípulo de Joseph Goebbels na aplicação dos seus 11 princípios, com as narrativas que estão a contar às massas ao longo dos debates ! 

Para isso obviamente tenho que vos enunciar a lista de princípios, e agradeço à Paloma Sánchez-Garnica, e ao Google, a ajuda que me deram :

1) Princípio da orquestração 

A propaganda deve limitar-se a um número reduzido de ideias, repetindo-as incansavelmente, apresentadas uma e outra vez de diferentes perspectivas, mas convergindo sempre para o mesmo conceito. Uma mentira suficientemente repetida acaba por se converter numa verdade.

2) Princípio da verosimilhança 

Construir argumentos a partir de diferentes fontes, através dos chamados balões de ensaio, ou de informações fragmentárias, com a finalidade que o ouvinte não perceba que o assunto em causa não é verdadeiro.

3) Princípio do silenciamento

Calar as questões sobre as quais não se tem argumentos convincentes, e disfarçar as notícias que favorecem o adversário, contando para isso também com o auxilio de meios de comunicação afins e amigáveis.

4) Princípio da vulgarização 

Toda a propaganda deve ser popular, adaptando o seu nível ao menos inteligente e culto dos indivíduos a que se dirige. Quanto maior for a massa de gente a convencer, menor deverá ser o esforço mental e intelectual para a entender. A capacidade de receção das massas é limitada, e a sua capacidade de compreensão escassa. Além disso têm muita facilidade em esquecer.

5) Princípio do exagero e da desfiguração 

Exagerar as más notícias até desfigurá-las, transformando um delito em mil delitos, e criando assim um clima de insegurança e paranóia nas massas.

6) Princípio da simplificação e do inimigo único 

Simplifique, não diversifique. Escolha um adversário de cada vez. Ignore o que os outros fazem, concentre-se num até acabar com ele.

7) Princípio da renovação 

O adversário escolhido deve ser bombardeado com novas notícias, argumentos e informações a um ritmo tal que o deixem sufocado, sem poder pensar. Quando responder, já o público está interessado num novo tema. As respostas do adversário nunca devem poder contrariar o nível crescente de acusações.

8) Princípio do método de contágio

Reunir diversos adversários numa só categoria ou indivíduo. Os adversários devem constituir uma soma individualizada.

9) Princípio da transposição 

Imputar ao adversário não só os próprios erros ou defeitos, como todos os males sociais. Responder a ataques com ataques. Não sendo possível negar as más notícias, inventar outras para abstrair e distrair as massas delas.

10) Princípio da transferência 

Por via de regra, a propaganda atua sempre a partir de um substrato pré-existente, seja uma mitologia nacional, seja um complexo de ódios e preconceitos tradicionais. Trata-se de difundir argumentos que alimentem atitudes primitivas.

11) Princípio da unanimidade

Convergir para assuntos de interesse geral, apoderar-se do sentimento produzido por estes nas massas, voltá-los contra o adversário.

Há  certamente quem pense que nos falta o mestre Goebbels para dar exemplos concretos do que ele pretendia dizer em cada um dos pontos. Se  no entanto nos dermos ao cuidado de refletir sobre os 8 anos de governação de António Costa, 6 em regime de geringonça com BE e PC, e depois 2 anos de extraordinária maioria absoluta, em que curiosamente é quando se dá toda a balbúrdia de corrupção, incompetência, má gestão e destruição do setor público, enquanto o maná do dinheiro europeu entra, será  fácil encontrar exemplos de todos eles em todas as narrativas do PS, construídas com a ajuda de spin doctors (um em particular…) que são doutores na aplicação prática dos 11 princípios de Goebbels. Narrativas invariavelmente servidas às massas ignaras pelos média dóceis, falidos, e portanto dependentes das benesses que lhes possa dar o Governo por receber nos ecrãs televisivos tratamento deferente e simpático. Repulsiva a falta de vergonha a que chegou a maioria das redações.

Após o último debate irei ver como se monta um desses inquéritos que pululam o LinkedIn (a única rede social, juntamente com o Instagram, onde deixo “pegada”), para conhecer a vossa opinião sobre o grande vencedor do Prémio Goebbels ao maior endrominador de massas partidário ! 

Eu cá, pelo pouco que tenho visto dos debates, já tenho uma claríssima vencedora. Só não sei ainda em quem, ou como votar em Março. Talvez no que fique no fundo da tabela como o pior endrominador de massas, segundo os princípios goebbelsianos.

José António de Sousa

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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