Lisboa recebe Congresso Universal de Esperanto a partir de domingo
Portugal recebe pela primeira vez, a partir de domingo, o Congresso Universal de Esperanto, uma iniciativa que vai pôr a falar em Lisboa mais de mil participantes de vários países nesta língua.
Até 04 de agosto são esperados em Lisboa 1.800 esperantistas de 74 países, de acordo com a Associação Portuguesa de Esperanto (APE), que coorganiza o evento, cujo programa inclui palestras temáticas sobre história, cultura, linguística, demografia ou mesmo astrofísica.
Para o presidente da APE, José Gaspar Martins, trata-se de “repor um bocadinho a justiça”, uma vez que Portugal era um dos poucos países da Europa Ocidental onde a iniciativa centenária ainda não se tinha realizado.
O Congresso Universal de Esperanto terá como palco principal a reitoria e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e o alto patrocínio do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, além de uma comissão de honra liderada pelo ex-Presidente da República Ramalho Eanes.
Apenas interrompido durante as I e a II guerras mundiais, o congresso realiza-se anualmente desde 1905 e, para os esperantistas, é uma forma de manter viva a língua que se quer universal, mas que é falada por uma minoria.
O esperanto, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) por aproximar raças e povos, foi criado pelo oftalmologista polaco Ludwik Lejzer Zamenhof, em 1887.
Estima-se que falem fluentemente a língua dois milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, serão cerca de uma centena, segundo o presidente da APE, José Gaspar Martins.
Entre os esperantistas portugueses há gente mais velha, que aprendeu esperanto na associação, antes do 25 de Abril de 1974, e gente mais nova, que se socorreu dos cursos disponíveis na internet.
“Há muita gente ligada à informática e à matemática”, contou anteriormente José Gaspar Martins à Lusa, salientando que o esperanto é uma língua com “muito raciocínio lógico” e fácil de aprender.
“Tem 16 regras, sem exceções, e não é preciso uma memória extraordinária para se decorar vocabulário. Cada letra corresponde a um som. Sabendo-se como se diz, sabe-se como se escreve”, sublinhou.
Não sendo uma mistura de línguas, o esperanto tem origem em vários registos linguísticos – latino, germânico e eslavo. A língua portuguesa está entre os idiomas com mais vocábulos parecidos com o esperanto.
Ainda que facultativo, o ensino do esperanto não está disseminado no mundo, muito menos em Portugal, onde, na década de 90, uma petição da APE a favor do ensino experimental da língua nas escolas secundárias não deu frutos.
Clássicos como “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, e “A divina comédia”, de Dante, ou a Bíblia e o Corão estão traduzidos para esperanto.
Wilson Brígido, professor na Escola Secundária Camões que ensina esperanto a sete alunos, maioritariamente seniores, numa associação em Lisboa, lamentou que a falta de “discussão e decisão política” tenha impedido, ao longo dos anos, que a língua surgisse como “um candidato” a idioma verdadeiramente comum no mundo, de todos, que superasse as barreiras linguísticas entre nações, tal como quis o seu mentor há 131 anos.
O que o atraiu no esperanto, que aprendeu quando ainda era estudante na Universidade de Fortaleza, no Brasil, de onde é natural, foi a designação com que era apresentado o idioma numa lista de vários ensinados na universidade a título opcional, a de ser uma “língua internacional” que, sustenta, ao contrário das línguas de cada país ou região, “não carrega uma cultura específica”.