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Não desistir

Acho um tremendo desrespeito pelos portugueses que vão ter de ficar em casa no Sábado e Domingo a partir das 13 horas haver partidos políticos que adiam os seus congressos!

Num momento em que não há tempo a perder, em que deflagra uma gigantesca crise, todos os partidos tinham a obrigação de estar a debater, em congressos extraordinários, soluções para resolver os problemas de Portugal. Mas só um partido vai estar a fazer isso: o PCP – Partido Comunista Português. Os outros “adiaram”…

Esta sexta-feira, nos Armazéns do Chiado, decidi contar quanto tempo demorava a cruzar-me com 600 pessoas. Demorei 24 minutos. O mesmo número de pessoas que vai este fim-de-semana estar no XXI Congresso do PCP – Partido Comunista Português.

Agora imaginem um país no qual, durante uma pandemia de consequências brutais, na comunicação social inteira ninguém condena os centros comerciais estarem abertos e cheios, nem os transportes públicos estarem a abarrotar, nem as casas terem preços que as pessoas não conseguem pagar, e a maior polémica da semana ser haver um partido político que ousa trabalhar ao sábado para resolver os problemas do país!

Imaginem agora que nesse país os principais órgãos de comunicação social são detidos pelo maior partido político desse país, o PSD, fundados todos pela mesma pessoa, Francisco Pinto Balsemão, um dos fundadores do PSD, do Expresso, da SIC, dono de todos os órgãos de comunicação social do grupo Impresa, fundados todos – partido e empresa – com um objetivo comum: o poder.

Imaginem que nesse país, onde um milhão de pessoas anda todos os dias nos transportes públicos e em lojas à pinha, esses órgãos de comunicação decidem durante semanas atacar sem parar não isso, mas sim 600 portugueses comuns, eleitos por outros 50 mil portugueses comuns, para os representar numa votação de um partido político.

Porque será que esse partido incomoda tanto estes órgãos de comunicação social?? Será que é por ser o partido que propõe criar uma sociedade sem classes sociais, que afronta diretamente os poderes instalados, e que por ser essencial para viabilizar governos, os puxa para a esquerda?? Será que a família que é dona de toda a comunicação social portuguesa ficou com medo?

Imaginem agora que era Nicolás Maduro, Lula da Silva ou Evo Morales a propor, em pleno estado de emergência do seu país, mudar a Constituição – lei máxima do regime – para proibir o congresso de um partido político da oposição, discursando através de canais de TV dos quais é dono um dos fundadores do seu partido. O que diriam vocês?

Mas foi Rui Rio. Que diz não perceber porque é que a constituição portuguesa não permite limitar a atividade dos partidos políticos. Porque será? Será para impedir que um governante com tentações autoritárias como Rui Rio nos levasse para uma ditadura?
Será para impedir que, com a desculpa da pandemia, as direções dos partidos políticos todos adiem, ad eternum, como fizeram, os seus congressos com a maior das facilidades, admitindo que nesses partidos tudo é decidido pela cúpula, e que nesses partidos os congressos são apenas uma formalidade e não são verdadeiramente necessários à regular atividade desses partidos?

Pois no PCP parece que não é assim!

Imaginem 600 pessoas comuns que em vez de passarem Sábado e Domingo em família, a namorar ou a descansar, se dão ao vagar de ir voluntariamente para Loures trabalhar o fim-de-semana inteiro depois de terem passado a semana no emprego!

Quem considera que o XXI Congresso desrespeita os portugueses impedidos de sair de casa a partir das 13h acha que vai estar a acontecer o quê no Pavilhão Paz e Amizade? Festa rija? Almoçaradas? Concursos de Miss T-Shirt Molhada?

As 600 pessoas que vão estar no congresso vão estar a trabalhar.

Ao mesmo tempo que no país inteiro polícias, motoristas, jornalistas, militares. Cada um a trabalhar pela parte que lhe compete nesta sociedade. Uns trabalham pela segurança, outros pela informação, outros pela democracia.

As pessoas que vão estar reunidas este fim-de-semana no XXI Congresso do PCP são as mesmas que tiveram de ficar em confinamento, os mesmos trabalhadores essenciais que foram obrigados a trabalhar durante a pandemia, empresários com micro e pequenas empresas à beira da falência, enfermeiros, juristas, taxistas, professores, artistas, bombeiros, operadores de call center, reformados, operários fabris, arquitetos, engenheiros…

… e POR ISSO MESMO É QUE, depois de tudo o que o governo lhes impôs, têm todo o direito de se reunir para pensar estratégias para melhorar o estado deste tal país imaginário do qual tenho estado a falar que se chama Portugal.

Até porque ficou confirmado que são os únicos que não vão desistir. De Portugal. Da democracia. Dos direitos.

 

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