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Não me chames boazona

Não me chames boazona
que não sou boa nem boazinha
sou meiga, carinhosa, bondosa, má
contigo se o fores comigo.

Não me chames pombinha
que eu não sou ovípara
sou mamífero como tu
abre um bestiário, bestinha!

Não me chames bebé
que eu sei bem tratar de mim sozinha
não sou menino de mamã, como tu.

Não me chames pulguinha ou repolhinho
que eu falo francês
mas não gasto o meu latim contigo.

Não chames docinho
que eu sou do sabor e do travo
que eu decidir.

Não me chames frágil
que eu não me desfaço
se me tratares bem
porque eu sou forte, valente, corajosa.

Não me chames brotinho nem florzinha
que eu não preciso de ser regada
preciso de ser respeitada.

Não me chames pequena
que eu posso caber debaixo do teu braço
mas estou à tua altura.

Não me chames gazela nem cabra
que eu não tenho cornos
só se tu me os puseres.

Não me chames pega nem rameira
que não sou voltátil nem grosseira
como tu,
eu sou constante e firme e convicta.

Não me chames fácil
porque eu é que decido
do meu grau de dificuldade.

Não me chames borracho
que eu não sou nem estou bêbeda
quando e se o faço, estou sóbria.

Não me chames cona
que só chega lá
quem eu deixo lá chegar.

Não me chames puta
porque só o sou
se eu quiser.

Não me abordes na rua
para te meteres comigo
que só se mete comigo
quem eu escolho, percebes
ou queres que te faça um desenho?

Não me digas “vem cá”, que eu só vou
com quem eu quero, quando eu quero
e onde os meus próprios passos me levam.

Não me digas que até me fodias
que eu só fodo com quem eu quero.

Não me digas que me davas uma
que eu até sou mulher de querer
mais do que uma
mas não contigo, picha mole!

Não me chames gaja, fulana,
tipa, vadia, vagabunda
que eu não sou a tua mãe
nem o teu pai
que não tiveram culpa
de ter um filho como tu
mas têm culpa da educação
que te deram ou não te deram
e de não te ensinarem a falar sem insultar.

Não me chames coisinha, linda,
podre de boa, dama, belezura,
feia, gorda, matrafona, burra
que eu não te chamo
abécula, fedorento, badameco
camafeu, monstruoso
mesmo se o mostras ser.

Não queres que eu te chame rude e bruto
mas és tu que recorres ao insulto
ao agravo, ao ultraje, ao impropério
como queres que eu te leve a sério?

Não me chames nada
porque eu não sou nada
do que tu me chamas
sou uma Mulher
uma M-u-l-h-e-r!
Conceito demasiado complicado, bem sei,
para a tua paupérrima moleirinha,
esse incomensurável ermo inane
de neurónios rarefeito,
ou precisas, caro otário,
que te ofereça um dicionário?

Sou uma Mulher e isso devia bastar
para saberes como me deves tratar.
De igual para igual e com respeito.
Isso apenas.

Daniela d’Ávila 08032020

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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