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Pandemia: Papa critica negacionistas e “incapazes de sair do seu pequeno mundo”

O Papa defende no novo livro intitulado ‘Vamos sonhar juntos’, escrito com o jornalista Austen Ivereigh, seu biógrafo, que a pandemia representa a “hora da verdade” para que a humanidade promova mudanças de fundo contra a injustiça e a desigualdade.

“A crise da Covid-19 parece única porque atinge a maior parte da humanidade. Mas é especial apenas pela sua visibilidade: existem mil outras crises igualmente terríveis, mas dado que para alguns de nós parecem distantes, comportamo-nos como se não tivéssemos nada a ver com isso”, refere Francisco, numa das passagens da obra, divulgadas pelo Vaticano e pela imprensa.

O Papa aborda questões como as guerras, tráfico de armas, migrações e refugiados, pobreza e fome ou as alterações climáticas.

A obra, que vai chegar às bancas a 1 de dezembro, deixa críticas aos “negacionistas” da pandemia, lamentando que estes manifestantes não protestem também diante de situações de violência ou racismo, dando como exemplo a morte do afro-americano George Floyd (25 de maio).

“Alguns grupos têm protestado, recusando-se a manter a distância, manifestando-se contra as restrições às viagens – como se as medidas que os governos devem impor para o bem do seu povo constituíssem uma espécie de ataque político à liberdade individual”, indica o Papa.

Francisco fala em pessoas “incapazes de sair do seu pequeno mundo de interesses”, alertando para situações de crise social, como “as favelas, onde as crianças carecem de água e educação”.

Em conversa com Ivereigh, o Papa explica que a sua preocupação com a ecologia está ligada à defesa da vida humana, ao contrário do que referem alguns dos seus críticos.

“Se pensas pensa que o aborto, a eutanásia e a pena de morte são aceitáveis, será difícil que o teu coração se preocupe com o envenenamento dos rios e a destruição das florestas. E o mesmo se diga do contrário”, precisa.

Francisco critica uma ideologia da “sobrevivência do mais forte, sustentada por um mercado sem travão, obcecado pelo lucro e pela soberania individual”.

“Se a Igreja tem uma tarefa particular a realizar, nos momentos de crise, é precisamente o de recordar ao povo a sua alma, a necessidade de respeitar o bem comum”, sustenta.

O livro apresenta uma reflexão sobre o rendimento mínimo universal, à imagem do que o Papa tinha feito em abril, quando enviou uma carta aos movimentos populares mostrando a sua solidariedade com o trabalhadores, perante a pandemia.

“Temos de ultrapassar a ideia de que o trabalho de quem cuida de um familiar, ou de uma mãe a tempo inteiro, ou de um voluntário num projeto social que assiste centenas de crianças, não é um trabalho porque não recebe um salário”, indica.

Francisco elogia, em ‘Vamos sonhar juntos’, o trabalho de economistas como Mariana Mazzucato Kate Raworth, para sublinhar a importância do contributo das mulheres na definição da sociedade pós-pandemia.

“Promover o Evangelho e não acolher o estrangeiro necessitado, nem afirmar a sua humanidade como filho de Deus, é querer fomentar uma cultura cristã apenas de nome, vazia de toda a sua novidade”, adverte.

A obra aborda também as polémicas ligadas aos Sínodos sobre a família (2014 e 2015) e sobre a Amazónia (2019), apontando o dedo a pessoas e meios de comunicação social que procuraram “reduziram todo o processo sinodal a um só tema”, seja a possibilidade de Comunhão para divorciados que voltaram a casar, seja a ordenação sacerdotal de homens casados.

“Mais do que procurar o confronto, declarando uma guerra em que cada uma das partes espera derrotar a outra, são precisos processos que permitam exprimir, escutar e amadurecer as diferenças, de maneira a caminhar juntos sem necessidade de aniquilar ninguém”, observa o Papa.

Francisco refere-se às perseguições religiosas, apresentando os uighures como um povo “perseguido” a par dos yazidi e dos rohingya, numa crítica indireta ao regime da China.

 

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