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Portugueses criam ventilador “low cost”

Uns são físicos expatriados e já trabalharam em projetos do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), outros são engenheiros da diáspora de uma equipa italiana de Fórmula 1, alguns são médicos na linha da frente contra a pandemia provocada pelo novo coronavírus. Todos são portugueses. E, em cima de uma mesa no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP) em Coimbra, criaram um ventilador mais simples, barato e rápido de fabricar, que pode ser usado em caso de emergência em pacientes com covid-19.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, “mostrou interesse e ofereceu apoio” ao conceito quando foi informado dele através do projeto Open Air.

Manuel Heitor disse ao jornal Observador que a iniciativa “é um claro resultado da capacidade acumulada em Portugal em sistemas de engenharia de elevada complexidade”: “O movimento de mobilização nacional em torno deste tema é impressionante e tem sido realizado em estreita colaboração com instituições médicas e a indústria”, comentou o ministro. E acrescentou: “A gama de situações e de produtos em desenvolvimento em Portugal é muito alargada e diversificada”.

A ideia partiu de Paulo Fonte, físico instrumentalista, professor no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra e investigador no LIP. Foi ele um dos criadores do Hades, na Alemanha, um detetor de partículas elementares que estuda os núcleos dos átomos para responder a algumas das perguntas mais inquietantes da física quântica. E também foi ele um dos investigadores que montou o SHIP no CERN, na Suíça, um projeto em busca de partículas que ainda não são conhecidas pelos cientistas.

Paulo Fonte queria conceber um conceito que permitisse criar mil ventiladores em quatro semanas. E contactou o projeto Open Air, arrancado pelo neurocientista e filósofo português João Nascimento, sobre o qual o investigador do LIP tinha lido num artigo do Observador. A 11 de março, João tinha sugerido ao mundo através do Twitter que os especialistas se juntassem para criar um novo modelo de ventilador médico com método de código aberto. O apelo foi bem recebido e junta agora dezenas de milhares de investigadores num só projeto. Um deles é Paulo Fonte.

Foi através desse projeto que Paulo se juntou também a médicos — Pedro Póvoa, diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital São Francisco Xavier; António Bugalho, pneumologista nos hospitais da CUF Lisboa e professor na NOVA Medical School; e cirurgião no Exército Português. E a engenheiros — Américo Pereira, Luís Lopes, Orlando Cunha (LIP), Telmo G. Santos, Alberto Martinho, António Gabriel-Santos, José Paulo Santos, Luís Gil, Tiago Rodrigues, Valdemar Duarte, António Grilo, João Goês, João Martins, João Pedro Oliveira (Universidade Nova de Lisboa), Gonçalo Pimenta (engenheiro estrutural) e Pedro Pinheiro de Sousa (Haas F1 Team).

Debaixo da alçada do projeto Open Air, a equipa criou um ventilador muito mais simples que os usados habitualmente nos hospitais, feito com materiais comuns na distribuição de gás ou de água nas nossas casas — objetos que existem em qualquer armazém e que não estão a escassear. É um sistema tão simples, com materiais tão comuns, que não só podem ser fabricados em tempo recorde em Portugal (até agora, tínhamos mesmo de os importar), como são muito mais baratos. Um ventilador tradicional, feito com materiais certificados pelas autoridades de saúde, custa 25 mil euros. Este precisa apenas de mil euros para ser produzido.

Não arrisca adiantar uma data para quando o protótipo estará pronto a ser experimentado em contexto real: “O mínimo possível. Se dependesse de nós, dizia-lhe que segunda-feira estava feito. Mas posso garantir-lhe que estamos a trabalhar o mais rapidamente possível”, prometeu.

 

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