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Sobre a liberdade – ponto 2

O que eu escrevo sobre liberdade, é aquilo que eu acho, mas nada me garante que eu esteja correcto, pois é legitimo que qualquer um de vós pense e seja livre de forma diferente.

Em termos gerais, a liberdade individual refere-se à capacidade de agir, escolher e viver de acordo com a própria vontade, sem restrições excessivas ou opressão. Mas não chega por a liberdade faz-se de forma colectiva, porque vivemos em sociedade e como tal, teremos todos que nos adaptar às referidas leis e regras. Temos como base que a nossa liberdade termina quando causa dolo a outro ou à sociedade, e teremos que necessariamente distinguir de forma a roçar a perfeição a liberdade de libertinagem, para que nunca possam ser confundidas.

Ao contrário que outros afirmam, a liberdade apenas tem uma face, e não existe o outro lado ou o mal da liberdade. Isso apenas serve de argumento a quem a quer condicionar a sua liberdade dos outros à sua maneira. Não existe lado negativo da liberdade e acredito ser esta uma premissa para entendermos e darmos valor à liberdade.

Então, o que é a liberdade, o que é a mulher ou homem livre?

Gostava de dar um exemplo de seres ditos irracionais, antes de avançar para os racionais. Em Outubro de 2017, um enorme incêndio abalou, pela segunda vez, o interior centro de Portugal. Dezenas de pessoas perderam a vida, e marcou milhares de outras para toda a vida. A quinta de familiares, como milhares de outras, foi afectada, e parte da lenha que eu em casa utilizo para a lareira, provem de árvores que foram atingidas pelo fogo. Diga-se de passagem que em tom de brincadeira, digo que a minha lenha é da moderna pois é pré-queimada.

Em determinado momento em que o fogo parecia consumir a quinta toda, decidiu-se soltar todos os animais, para também eles tentarem salvar a vida. Partiram todos, e depois, após ganharem confiança de que podiam regressar, regressaram quase todos. Os outros, vendo-se livres não quiseram voltar aos calabouços, outros, certamente, foram dizimados pelo fogo. No dia seguinte ao fogo amainar, as cabras por sua iniciativa foram para o curral e os pássaros, capazes de voar, regressaram ao seu ambiente de conforto. Um dos cães nem fugiu, esteve enfiado dois dias dentro do carro do dono e mostrou-se renitente em voltar a colocar as patas no chão.

Perante uma situação de oportunidade de serem livres, a maioria rejeitou. Terão os animais a noção de liberdade? Ou será que de tanto os domesticar não conseguiriam sobreviver se fossem abandonados

à sua sorte. Por outro lado, muitas outras espécies de animais recusam a domesticação e o cativeiro. De maneira que não posso concluir que existe uma noção ou não de liberdade nos animais. Também poderemos considerar que se tiverem liberdade, escolhem um local de abrigo junto aos humanos ou preferem estar longe deles.

Disse-me uma vez um grande amigo ligado à causa animal, partidário do PAN e com grande experiência com cães e gatos, que que os cães que nunca tiveram dono, são os mais dóceis quando integrados num lar, reconhecem a hospitalidade e sentem-se bem e tentam não dar muito trabalho ou provocar muitos incómodos.

Eu cheguei a ter um cachorro, o Sniky. Não conheceu outros lares para além dos dois apartamentos onde viveu comigo, com a Diana e com a Ana. Tenho ideia que foi feliz, nunca lhe faltou carinho, nunca que falhou comida, e para desgosto dele, nunca lhe faltaram veterinários. Penso que lhe teriam faltado mais cadelas à disposição.

Tinha a noção de que fazia parte de uma família e a minha família tinha a sua hierarquia: a Ana era a dona de todos, depois mandava eu e finalmente, em pé de igualdade, ele e a minha filha. Como era pequeno e inofensivo, apesar de tentar fazer-se passar por grande garanhão, muitas das vezes, quando ia à rua, ia sem trela. Tinha um grande sentido de propriedade, detestava ter outros cães em casa, perto dos donos, chateava-se se havia algo de novo na cama dele e curiosamente, sempre que lhe retirávamos a coleira ficava inquieto como se lhe faltasse algo que era muito importante.

E como se comportarão os humanos quando o tema é liberdade? O sentimento de liberdade será algo nato, aperfeiçoado ou descoberto?

Pedro Guimarães

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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